sábado, 21 de abril de 2012

STRESS OCUPACIONAL

 Cresce o número de casos da chamada “Síndrome de Burnout” ou stress ocupacional, que tem como sintomas característicos, as dores no corpo, hipertensão arterial, angústia, depressão e ansiedade ocasionados por excesso de trabalho. Vivendo num contexto social cada vez mais tenso e sendo cada vez mais exigido pelo competitivo mercado de trabalho, o indivíduo que não disponha de meios naturais de reequilibração psíquica tenderá a ceder às pressões do meio ambiente, esquecendo-se de si mesmo, e de suas próprias necessidades emocionais. Cada vez mais o indivíduo se afasta de suas tendências naturais de expressão, procurando atender às cobranças de um mundo que avalia a qualidade de vida pelos bens de consumo, desprezando aspectos fundamentais de qualidade de vida, que não podem ser medidos quantitativamente. Preocupado com o próprio sucesso profissional, o indivíduo vai deixando de lado os prazeres simples que alimentavam seu lado emocional, transformando-se numa verdadeira máquina de trabalho. Com o passar do tempo, ele entra num estado de desgaste e falta de motivação, apresentando queda da capacidade produtiva, da atividade sexual e do prazer de viver, em geral.
 As dores no corpo são decorrentes do estado permanente de alerta, que mantém a musculatura tencionada, diante de uma ameaça real ou imaginária. O psiquismo se prepara para fugir ou lutar, quando, na maioria dos casos, nenhum desses dois comportamentos é possível de ser concretizado. Este estado de tensão permanente provoca o estreitamento das artérias, elevando a pressão arterial, causando a hipertensão primária, pois o sangue bombeado pelo coração precisa atravessar canais circulatórios reduzidos pela tensão emocional. A depressão por sua vez, expressa o sentimento de impotência diante de uma situação que o indivíduo gostaria, mas não sabe como modificar. A ansiedade sentida, nestes casos, deve-se à expectativa de um futuro melhor, em que estas pressões não mais ocorram, e a angústia é o coquetel de emoções, que provoca um “aperto no peito”, como resultante dos sintomas de pré-cordialgia, que acompanham estes casos, quando as cartilagens que sustentam o coração, ficam inflamadas pela tensão permanente.
As pesquisas mais recentes sobre a consciência humana mostram que o estado de consciência em que o indivíduo se encontra é fator fundamental para a manutenção de sua saúde como um todo (física, emocional, mental e espiritual), sem o que o dia-a-dia se transforma num arrastar pela vida, em busca da sobrevivência.
Esse quadro de stress é expresso na linguagem diária do indivíduo, num processo permanente de auto-hipnose negativa de lamentações, queixas e críticas, através do que ele estabelece comandos psíquicos que o conduzem cada vez mais em direção ao insucesso, bloqueando sua própria capacidade de reorganizar-se mental e emocionalmente.
 No tratamento da Síndrome de Burnout, o trabalho terapêutico através de técnicas específicas de Hipnose Ericksoniana e Reprogramação Neurolingüística consiste na identificação das cargas emocionais causadoras dos sintomas, liberando a energia nelas contida, para o exercício de atividades simples, que devolvam ao indivíduo o prazer de viver e a capacidade de identificar seu próprio caminho existencial. O objetivo terapêutico é também reconduzir a atenção consciente do indivíduo para a realização de si mesmo, apesar das pressões externas que continuarão a existir, mas que passarão a ter um valor relativo, compensado por metas internas mais bem definidas.
Todo este trabalho de reprogramação de estilo de vida busca resgatar para o indivíduo o sentido de sua própria existência no momento de vida presente. Independente das pressões que existam no mundo externo, é preciso eliminar o desgaste desnecessário, produzido pelo medo do insucesso profissional e das possíveis perdas financeiras, sentimentos que acabam minando a saúde e realmente conduzindo ao fracasso profissional.
                                                                                       SUELI MEIRELLES


Site: www.wix.com/sueli_meirelles/institutoviraser
E-mail: sueli_meirelles@yahoo.com.br

quinta-feira, 5 de abril de 2012

MEMÓRIAS DA PAIXÃO DE CRISTO I

Naquele dia, a brisa suave acariciava as pequenas folhas das oliveiras. Eu caminhava entre elas, com minhas vestes simples de camponesa, segurando o cesto onde mais tarde recolheria os frutos, selecionando-os para que produzissem bom azeite. Meu pai ordenara que eu assim o fizesse e eu o obedecia, zelosa. Eu contava, na época, cerca de doze ou treze anos e jamais poderia imaginar que vivia o período mais importante da história religiosa da humanidade. Era, hoje o sei, o ano 33 da era cristã. Meus pais e eu já havíamos ouvido falar de um Rabi chamado Joshua, que vinha despertando a atenção de muitos para os seus ensinamentos. Por onde caminhava, uma multidão sempre o seguia e isto despertava a curiosidade de todos, o que gerava polêmicas e comentários diversos, para descontentamento das autoridades, que viam naquilo um risco de revolta contra a submissão ao poder de Roma. Meu pai, como produtor de azeite, temia que seus negócios fossem afetados, caso surgisse um conflito com armas, colocando nossas terras a mercê de saqueadores. Eu ouvia estas conversas entre meu pai e meu tio, sempre escondida, porque estes assuntos não eram permitidos às mulheres. Ouvira-os falarem, na noite anterior, sobre a intenção de levar-nos todos, para ver o jovem Rabi, que percorrera muitas terras e agora voltara para a Galiléia. E este dia chegara. Eu procurava cumprir as ordens de meu pai à risca, temerosa de que ele me impedisse de ir, por alguma insatisfação que eu lhe provocasse e aguardava o grande momento.

Quando voltei à casa, todos já estavam se aviando para a caminhada até o monte onde o Mestre faria um sermão e curaria enfermos, maravilhando a todos que o viam. Minha mente e meu coração, ainda jovens, ansiavam em grande expectativa. Seguindo atrás de meus pais e irmão, eu permanecia silenciosa, atenta ao que os mais velhos comentavam. Quando nos aproximamos do local, uma grande multidão já o esperava. O Mestre veio caminhando por entre o povo e passou a uma pequena distância de onde eu me encontrava. Ele demonstrava uma leveza pouco comum aos homens daqueles tempos. Mesmo com a veste simples de algodão que o cobria por inteiro, Sua Imagem era de nobreza e grandiosidade, Sua Voz era doce e suave e Seus Olhar, cândido como o do cordeiro. A Sua Presença nos magnetizava e parecia impossível desviarmos Dele nossos olhos. Subindo até a parte mais alta daquela colina, ele falou, com sua voz doce e suave, as palavras mais lindas que eu já ouvira em minha vida. Ele prometia consolo aos que sofriam e falava de um tipo de amor bem pouco comum naqueles tempos de ódio e dominação, em que a vida humana parecia valer tão pouco. Enquanto Ele falava, a multidão silenciosa, presa ao seu magnetismo, parecia mergulhar dentro de si mesma, onde, hoje acredito, pensamentos e sentimentos inferiores, produzidos pela ignorância extrema, geravam tanta discórdia e sofrimento entre os homens.
Ao entardecer, voltei para casa com meus pais, novamente caminhando silenciosa atrás deles, procurando entender aquele mundo que o Rabi nos prometia e que contrastava tanto com a realidade com a qual convivíamos. Meu coração, ainda ingênuo, encheu-se de esperança e eu fiquei imaginando como seria bom que num breve tempo, todos pudessem viver com a paz e a harmonia que eu agora vislumbrava serem possíveis. Naquela noite, meus sonhos foram embalados pelos mais doces sentimentos, transmitidos pelo Mestre, e o meu coração parecia ter sido alimentado por todo o Amor que Ele transmitia às pessoas. Acrescia-se a isto a feliz notícia de que por ocasião da Páscoa, iríamos a Jerusalém, visitar alguns parentes, o que significava que eu poderia ver o Mestre novamente.

Chegada a grande data, todos os preparativos estavam a termo e a viagem foi iniciada com grande expectativa de minha parte. Eu não conhecia Jerusalém e, na minha idade, qualquer acontecimento era uma grande novidade para mim, menina simples do campo. Muito me surpreendi com a movimentação de pessoas na grande cidade. Mas havia algo estranho no ar. Meus pai mostrava-se apreensivo após conversar com os outros homens da família, logo depois que chegamos. As notícias não eram nada boas. O povo estava muito insatisfeito e havia um grande risco de convulsão. Muito assustada, soube que o Mestre Joshua havia sido preso e que seria julgado diante do grande Pilatos, ainda naquele mesmo dia. Não tive permissão para ir e fiquei na casa de meu tio, junto com todas as outras mulheres da família. Elas também se mostravam muito tristes. Eu não compreendia direito porque as palavras tão bonitas do Rabi não haviam sido compreendidas pelos adultos. Pareciam tão simples! Tão verdadeiras para o meu coração de criança!
Quando os homens de nossa família voltaram, traziam terríveis notícias. O Rabi de olhar doce seria crucificado no monte Gólgota. Todos então seguiram para lá e, tomada de intensa angústia, eu segui atrás deles, como em todas as vezes que eles autorizavam a minha presença. No caminho, encontramos muitas outras pessoas, igualmente aflitas. Parecia que o grande sonho de liberdade de nosso povo estava terminando. Algumas mulheres choravam, enxugando seus rostos nos mantos. Eu me espremia entre elas, até que chegamos a uma ladeira, onde a multidão abria caminho para o condenado. Lá estava o Mestre. O Doce Mestre Joshua, que dizia tão lindas palavras e tanto bem fizera aos que o procuravam com fé. Olhando por entre os adultos, eu pude vê-lo de relance. Seus olhar agora era de profunda dor. Seu rosto sangrava e em certo momento ele caiu ao chão. Uma mulher se aproximou para dar-lhe um pouco d’água e logo um guarda interveio, chutando o caneco para longe. Não sei se poderei descrever todo o horror que tomou conta do meu corpo. Eu estava aturdida. Tonta. Parecia mais sofrimento do que eu poderia suportar em minha breve existência. Todos, a minha volta, também pareciam sofrer muito. Eu já havia me perdido de meus familiares, mas seguia com a multidão naquele cortejo de morte. Parecíamos presos àquelas cenas infames. Nem percebi o esforço da subida, tão envolvida estava naquele momento. Quando chegamos ao monte, fechei meus olhos para não ver o Mestre sendo pregado à cruz, mas meus ouvidos registraram as batidas secas do martelo, como uma sentença sendo lavrada no meio da multidão silenciosa. Não havia mais o que se fazer. Eu sentia que todos gostariam de libertá-lo daquele sofrimento, mas ninguém podia fazer nada. Absolutamente nada. E os nossos sonhos de paz e harmonia? Estava tudo perdido! Parecíamos todos condenados a uma vida de sofrimento e desvalia. Nosso Salvador estava para morrer. Como isto era possível?... As horas que se seguiram foram as mais terríveis e angustiosas que se possa imaginar. Parecia que ele provocava a emergência dos sentimentos mais contraditórios. Enquanto alguns o escarneciam em sua agonia de morte, outros pareciam partilhar com ele aquele momento único. A agonia durou horas que pareciam intermináveis. Depois, o céu se tornou escuro como a noite e um grande temporal desabou sobre nós. A terra tremia de forma estranha e o Amado Mestre espirou na cruz. Ainda tendo guardada em minha mente a imagem do seu corpo preso ao madeiro, eu olhava aturdida para o chão, vendo O Sangue Divino misturando-se a água que escorria como um regato pelo chão. Estávamos sendo lavados dos nossos pecados, mas eu não tinha esta consciência. Acho que ali, naquele momento, a maioria de nós não alcançava o significado daquela sublime redenção. A natureza descarregava toda a sua ira e o ar parecia saturado de uma força estranha que descia sobre o corpo inerte do Mestre. Mesmo envolvidos pelo grande temporal, permanecemos também inertes, até que tudo tivesse acabado. Parecia que nossas vidas também haviam se acabado. Nada mais fazia sentido...

Quando o grande temporal terminou, o mundo estava mudo. Tudo estava mudo: O vento, os pássaros, os animais da terra, os homens... Um silêncio total pairava no ar. Olhando um pouco ao meu redor, vi meus pais e, silenciosamente me uni a eles. Minha mãe me abraçou, também silenciosa e assim voltamos para a casa de nossos parentes. Ninguém falava absolutamente nada. Creio que a linguagem humana não poderia descrever o que sentíamos naquele momento. Acho que nem mesmo os adultos sabiam exatamente o que acontecera. Apenas, no mais fundo de nossas almas, identificávamos um poder que se espalhava por toda parte, quedando as criaturas. Aquela Páscoa foi muito estranha e, quando, alguns dias depois voltamos para a Galiléia, eu ainda não podia compreender o que sentia em relação a tudo o que presenciara. Ninguém falava comigo e eu também não procurava ninguém. Guardei dentro de mim aquela tristeza e ela me acompanhou por toda a vida. Mesmo nos momentos em que eu poderia dizer que fui feliz, pelos acontecimentos significativos de minha existência, jamais pude me libertar do sentimento de perda que se instalou em mim diante daquela cruz. Creio que este é o sentimento da Paixão, da dor atroz que marcou o coração de todos os que viveram aquele dia... O dia em que o Mestre Joshua resgatou em sua carne todos os pecados da humanidade; toda a energia não qualificada, em termos de pensamentos e sentimentos produzidos por uma humanidade ainda ignorante da Grande Lei de Deus: O Amor. O Grande Amor Incondicional que O Mestre veio nos ensinar; O Amor Ágape; o Amor Doação que a todos une e felicita.
Isto foi há dois mil anos atrás...Quando iremos aprender?... 

Nota: Este é um relato de memórias transpessoais, vivenciado no consultório, em regressão espontânea.

                                                                                               SUELI MEIRELLES