_Dê-me
sua mão! Deixe-se conduzir por essa espiral! Induzi, ao mesmo tempo em que
estabelecia uma âncora com a realidade, tocando levemente sua mão, em sinal de
acompanhamento.
_Estou
suspensa no ar... Não, no éter... Estou sem peso, sem temperatura... Neste
momento, sou pura e plena consciência... Olhando do alto, vejo uma forma
arredondada, ovalada... Como uma espiral de energia... A mesma espiral que dá
origem às estrelas e ao cosmos... É o princípio da vida... O que eu vejo é um
útero, ele está dentro da barriga de uma mulher... Ela vai ser minha mãe... Ela
está deitada em uma cama, à noite, ao lado de um homem... Ele vai ser meu
pai... Eles estão no quarto... A cama onde estão deitados é de madeira escura,
reta... É um móvel simples. O quarto é simples, tem cortinas nas janelas, de um
tecido pesado,parece aveludado... A cortina não combina com a simplicidade do
quarto... A janela fica à esquerda... As paredes são claras... A porta fica à
direita e está fechada... O chão é de tacos encerados... Lençóis brancos,
bordados em ponto cheio, com linha azul... Tem um monograma bordado... São dois
“as” entrelaçados... São as iniciais dos nomes deles: Alcides e Amélia.
Enquanto eu percebo essas coisas, o meu corpo vibra... Ele é d épura energia...
Lá embaixo, na
cama, o homem está deitado de costas para a mulher... Ela está com a perna
direita apoiada sobre a perna direita dele... O braço direito dela passa por
baixo do braço direito dele, rodeando-lhe a cintura...
A mão direita dela, agora, toca o
genital dele... Ele fica excitado... Ele se vira para ela... e a olha nos
olhos... Eles sentem amor um pelo outro... Eles se amam intensamente, e começam
a ter relações sexuais...
O meu corpo
vibra muito. É como se eu estivesse sendo puxada para baixo... Lá embaixo há
uma bolinha... É uma velocidade fantástica!... É como se eu estivesse descendo,
na espiral, em direção à bolinha... Descendo, descendo, descendo... É uma
bolinha tão pequenininha!... Eu agora estou na bolinha... Vibrando...
Vibrando... Na bolinha... É um óvulo...
Agora estou
dentro de um túnel, redondo, quentinho, meio rosado... Em sentido contrário,
vem uma bolinha diferente, de forma ovalada, com uma cauda ondulada... Tem
outros, muitos outros... Mas esses outros não são importantes... Só aquele...
Tenho na minha energia uma chave, uma informação, um código... Metade de um
código... A outra metade está nesse outra bolinha... Aí, então, descubro que a
outra parte da minha energia... A minha outra metade... Está nessa bolinha...
Eu serei uma pessoa inteira quando as duas metades se unirem...
Estou no meio
da bolinha... Tem muitas outras bolinhas querendo entrar, mas a única que tem a
chave da porta é aquela que despertou a minha atenção... Ela entra com tanta
facilidade!... A porta está se fechando... E nenhuma outra bolinha poderá
entrar... Somente esta... As outras bolinhas que ficaram lá fora vão morrer... Vão
se desmanchar...
Agora eu mesma
estou me multiplicando em muitas bolinhas, muitas...
2...4...8...16...32...64... Mais... Mais e mais, milhares de células... Eu
estou deslizando por um túnel, que desce por uma parte mais larga, mais
aberta... Agora vejo uma caverna. Ela é de cor rosa avermelhada, forrada por um
tecido esponjoso... Fofo, macio... Eu caio nesse tecido, e fico agarrada nessa
parede... Enquanto isso a multiplicação continua... Ela tem a mesma velocidade
incrível, espantosa!... Não tenho mais noção de tempo... É como se ele não
existisse...
Eu sou uma
semente de vida crescendo, crescendo... Aquela energia do Princípio da Vida
está agora multiplicada ou dividida, não se direito, em milhares e milhares de
pontinhos de vida... As minhas células... É fantástico!... Obedecendo àquele
código, elas vão se organizando... É como se soubessem o que devem fazer... É
perfeito, tão perfeito!... (Luíza chora, emocionada)... Elas estão formando um
fio longo... Na ponta desse fio longo tem células cinzentas... é o meu
cérebro...
Tem um outro
grupo de células, bem vermelhinho, que começa a fazer um barulho: tum... tum... tum...É o meu coração...
Outros órgãos estão se formando, parece tudo tão rápido! É o sangue fluindo...
Também
existe trabalho lá fora... Tem um outro tubo fino, que vai da minha barriga
para fora... O sangue passa rápido dentro dele. Leva detritos lá para fora...
Também me ajuda a respirar... Lá fora, aquele tecido que parece esponja está
crescendo... Em volta, agora, tem água, uma água azulada, não muito
transparente...
Lá fora existem ruídos, barulho
de barriga, de alimentos sendo digeridos... É o estômago de minha mãe
funcionando... E tem aquele tum... É
o coração dela batendo... Ela está tranqüila, eu também... Ela conversa muito
com meu pai... Eles têm dificuldades financeiras.... Mas estão juntos... E...
Eu estou crescendo tranqüilamente.
_Existe mais
alguma coisa que você queira perceber?
_Indaguei,
retomando a indução, após sua regressão espontânea à vida intra-uterina. Há
algo em relação ao nascimento que precise ser trabalhado?
_Se eu olhar
adiante, o nascimento também parece tranqüilo... A sensação que eu tenho agora
é de que não há mais nada a ser percebido. Estou me sentindo bem... Acho que já
posso voltar.
_Então,
gradativamente, perceba-se sendo a Luíza, uma só pessoa, adulta, com sua
energia totalmente reintegrada e bem distribuída pelo corpo, até abrir os olhos
novamente, como se estivesse acordando! Induzi, aguardando o seu movimento de
retorno ao estado de vigília... Como foi para voe viver essa experiência?
_Eu fui à vida
intra-uterina: É possível isso? Será que não imaginei toda essa história?...
Mas, tudo parecia tão real!... Tão verdadeiro!... Exclamou Luíza, ainda
aturdida com a experiência por que passara.
Em visão
holística, costumamos dizer que o dentro e o fora são a mesma coisa. Tudo se
interliga! Mas ao mesmo tempo, a consciência, que funciona no plano da
dualidade, necessita compreender e integrar as experiências vividas. Sua
experiência foi real para você. Ela é a sua representação interna da sua
concepção, e esta é uma representação bonita. Exprime as sensações e os
sentimentos que foram registrados por você, em relação a esse momento da sua
evolução. É também o seu simbolismo em relação à sua vinda a este mundo. No sentido
emocional, o que ela significou para você?
_Foi lindo!
Creio que jamais esquecerei essa história. A sensação de ser pura energia; a
sensação de vida fluindo; o amor de meus pais. Eu senti a segurança de nascer
num lar estável, fruto de um relacionamento afetivo bem sólido! Creio que isto
é o mais importante para os filhos. Pelo menos, é importante para mim. Foi
incrível! Será que realmente o espermatozóide que fecunda o óvulo é aquele que
tem um código semelhante? Que tem afinidade energética com o óvulo? Achei isso
tão bonito, também!...
Esta é a
abertura conceitual, que estamos empenhados em promover. Diante
do pré-suposto de um Módulo Organizador Bioplasmático, pré-existente ao corpo
físico, faz sentido que a escolha do espermatozóide que fecunda o óvulo não
seja uma escolha aleatória, mas o resultado seletivo das características mais
adequadas às experiências evolutivas do ser que vem ao plano da matéria. Isso
joga por terra o conceito de “acidente” genético. Segundo esta perspectiva, a
má formação genética é a manifestação física da energia mal qualificada por um
ser evolucionante. Este novo enfoque abre perspectivas para muitas pesquisas,
mas é fundamental o alargamento do enquadre científico. Enquanto nossa ciência
oficial estiver restrita pelo pensamento cartesiano, pouco ou nada, iremos
avançar neste campo, onde muitos fenômenos ainda aguardam explicações.
Mudando de
assunto, sinalizei para Luíza o término da sessão. A experiência fora
extremamente mobilizadora e como não é adequado que se realize mais de uma
técnica hipnótica por vez, havíamos usado o tempo restante com as necessárias
elaborações, em relação ao ocorrido.
Tecnicamente,
eu sabia que teríamos que retornar à infância para dar continuidade ao
fechamento e ressignificação de possíveis experiências traumáticas, ainda
mantidas sob o véu da inconsciência. Algumas sessões adiante, Luíza reviveu
outra situação significativa:
SUELI MEIRELLES
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