terça-feira, 13 de agosto de 2013

DEPENDENCIA QUÍMICA



            Numa sociedade que perdeu os seus valores éticos e a sustentação dos valores transcendentais, aumenta, assustadoramente, a quantidade de jovens dependentes químicos. Sentindo-se sem apoio para o enfrentamento dos desafios evolutivos da vida, eles buscam o alívio temporário e ilusório proporcionado pelas drogas, diante das dificuldades espirituais, psíquicas e emocionais. Para que possamos efetivamente ajudá-los, precisamos compreender como este processo ocorre.
            Em primeiro lugar, a predisposição psicológica para a dependência de drogas se estabelece na fase oral do desenvolvimento psico-afetivo, entre o primeiro e o segundo ano de vida, quando o indivíduo está aprendendo, literal e também simbolicamente, a caminhar com os próprios pés. As necessidades emocionais não atendidas nesta fase do desenvolvimento, irão se instalar na forma de baixa-estima e insegurança, gerando a ansiedade e os sentimentos de inadequação, que irão funcionar como um fator desencadeante do uso de drogas, na adolescência. Nesta fase de transição entre ser criança ou ser adulto, os “grupos de pares” surgem como uma das formas de apoio externo, diante das dificuldades relacionais típicas de nossa sociedade conflituosa, levando o jovem emocionalmente fragilizado às primeiras experiências com drogas, geralmente maconha. A maconha foi introduzida em nossa cultura pelos povos indígenas que a utilizavam como “erva de poder”, dentro de rituais religiosos, ou para alcançar estados alterados de consciência, quando conseguiam “sair do corpo”, para localizar uma criança perdida na floresta, por exemplo, e que corria risco de morte. No contato com a nossa civilização, este procedimento perdeu o seu caráter de utilidade e sacralidade, para se constituir num procedimento de fuga diante de uma realidade de vida, para a qual não se está preparado. Por este caminho, no decorrer das décadas, outras drogas foram introduzidas, com o objetivo de se conseguir, através de substâncias químicas cada vez mais pesadas, o tão desejado e inacessível estado de felicidade. Este estado alterado de consciência produzido artificialmente por uma substância química conduz a uma inegável e temporária sensação de bem-estar, que se constitui num dos principais obstáculos para a recuperação dos dependentes químicos. O relaxamento e a felicidade são resultantes da estimulação cerebral para a liberação de dopamina e cerotonina. A dopamina é o neurotransmissor responsável pelo relaxamento muscular, que se traduz pela sensação de total ausência de risco e a serotonina é a responsável pela sensação de bem-estar e felicidade. Liberadas em excesso durante o uso de drogas, as reservas destas duas substâncias são rapidamente esgotadas, uma vez que o cérebro não tem tempo para restabelecer o seu equilíbrio bioquímico, fazendo com que o usuário, ao retornar ao seu estado normal, caia no extremo oposto da tensão e da sensação de infelicidade, o que lhe exige novamente o uso da droga, estabelecendo-se um círculo vicioso, em que as quantidades da droga consumida terão que ser cada vez maiores, para compensar a falta (também cada vez maior) de dopamina e serotonina.
            Depois de estabelecida a dependência química, para que a recuperação seja alcançada, torna-se necessária a internação em clínica especializada, quando serão administradas porções gradativamente menores da droga, até que o organismo esteja totalmente livre de seus efeitos, e as liberações de dopamina e serotonina, pelo cérebro, tenham novamente alcançado o seu equilíbrio normal. Caso contrário, o dependente irá apresentar as reações típicas da síndrome de abstinência, na qual estão incluídas as depressões profundas, pela falta de serotonina, e os espasmos musculares, provocados pela ausência de dopamina no organismo. Todos estes fatores, associados aos estímulos externos de uma sociedade em transição civilizatória, deixam os jovens confusos e inseguros, quanto ao caminho que deverão seguir em suas vidas.
            Por detrás deste triste quadro, geralmente se encontra toda uma trajetória de falta de atenção e diálogo entre as diferentes gerações, substituição de valores morais por bens de consumo, desorientação quanto ao verdadeiro sentido da vida, sentimentos pouco desenvolvidos de fé e religiosidade, que poderiam funcionar como os elementos de apoio que os jovens necessitam, diante dos desafios que a vida lhes impõe.

Mais uma vez, o trabalho preventivo do diálogo aberto quanto às conseqüências do uso de drogas, associado ao suporte emocional e à introdução de valores morais e espirituais, pode trazer aos jovens a sustentação necessária para que eles entrem no mundo dos adultos, fortalecidos em suas metas existenciais, tornando-se mais seguros e menos sujeitos às influências externas destrutivas.

                                                                                 SUELI MEIRELLES

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