Numa sociedade que
perdeu os seus valores éticos e a sustentação dos valores transcendentais,
aumenta, assustadoramente, a quantidade de jovens dependentes químicos.
Sentindo-se sem apoio para o enfrentamento dos desafios evolutivos da vida,
eles buscam o alívio temporário e ilusório proporcionado pelas drogas, diante das
dificuldades espirituais, psíquicas e emocionais. Para que possamos
efetivamente ajudá-los, precisamos compreender como este processo ocorre.
Em
primeiro lugar, a predisposição psicológica para a dependência de drogas se
estabelece na fase oral do desenvolvimento psico-afetivo, entre o primeiro e o
segundo ano de vida, quando o indivíduo está aprendendo, literal e também
simbolicamente, a caminhar com os próprios pés. As necessidades emocionais não
atendidas nesta fase do desenvolvimento, irão se instalar na forma de
baixa-estima e insegurança, gerando a ansiedade e os sentimentos de inadequação,
que irão funcionar como um fator desencadeante do uso de drogas, na adolescência.
Nesta fase de transição entre ser criança ou ser adulto, os “grupos de pares”
surgem como uma das formas de apoio externo, diante das dificuldades
relacionais típicas de nossa sociedade conflituosa, levando o jovem
emocionalmente fragilizado às primeiras experiências com drogas, geralmente
maconha. A maconha foi introduzida em nossa cultura pelos povos indígenas que a
utilizavam como “erva de poder”, dentro de rituais religiosos, ou para alcançar
estados alterados de consciência, quando conseguiam “sair do corpo”, para
localizar uma criança perdida na floresta, por exemplo, e que corria risco de
morte. No contato com a nossa civilização, este procedimento perdeu o seu
caráter de utilidade e sacralidade, para se constituir num procedimento de fuga
diante de uma realidade de vida, para a qual não se está preparado. Por este
caminho, no decorrer das décadas, outras drogas foram introduzidas, com o
objetivo de se conseguir, através de substâncias químicas cada vez mais
pesadas, o tão desejado e inacessível estado de felicidade. Este estado
alterado de consciência produzido artificialmente por uma substância química
conduz a uma inegável e temporária sensação de bem-estar, que se constitui num
dos principais obstáculos para a recuperação dos dependentes químicos. O relaxamento
e a felicidade são resultantes da estimulação cerebral para a liberação de dopamina
e cerotonina. A dopamina é o neurotransmissor responsável pelo relaxamento
muscular, que se traduz pela sensação de total ausência de risco e a serotonina
é a responsável pela sensação de bem-estar e felicidade. Liberadas em excesso
durante o uso de drogas, as reservas destas duas substâncias são rapidamente
esgotadas, uma vez que o cérebro não tem tempo para restabelecer o seu
equilíbrio bioquímico, fazendo com que o usuário, ao retornar ao seu estado
normal, caia no extremo oposto da tensão e da sensação de infelicidade, o que
lhe exige novamente o uso da droga, estabelecendo-se um círculo vicioso, em que
as quantidades da droga consumida terão que ser cada vez maiores, para
compensar a falta (também cada vez maior) de dopamina e serotonina.
Depois
de estabelecida a dependência química, para que a recuperação seja alcançada,
torna-se necessária a internação em clínica especializada, quando serão
administradas porções gradativamente menores da droga, até que o organismo
esteja totalmente livre de seus efeitos, e as liberações de dopamina e serotonina, pelo cérebro, tenham novamente alcançado o seu equilíbrio normal.
Caso contrário, o dependente irá apresentar as reações típicas da síndrome de
abstinência, na qual estão incluídas as depressões profundas, pela falta de serotonina, e os espasmos musculares, provocados pela ausência de dopamina no
organismo. Todos estes fatores, associados aos estímulos externos de uma sociedade
em transição civilizatória, deixam os jovens confusos e inseguros, quanto ao
caminho que deverão seguir em suas vidas.
Por
detrás deste triste quadro, geralmente se encontra toda uma trajetória de falta
de atenção e diálogo entre as diferentes gerações, substituição de valores
morais por bens de consumo, desorientação quanto ao verdadeiro sentido da vida,
sentimentos pouco desenvolvidos de fé e religiosidade, que poderiam funcionar
como os elementos de apoio que os jovens necessitam, diante dos desafios que a
vida lhes impõe.
Mais uma vez, o
trabalho preventivo do diálogo aberto quanto às conseqüências do uso de drogas,
associado ao suporte emocional e à introdução de valores morais e espirituais,
pode trazer aos jovens a sustentação necessária para que eles entrem no mundo
dos adultos, fortalecidos em suas metas existenciais, tornando-se mais seguros
e menos sujeitos às influências externas destrutivas.
SUELI MEIRELLES
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