quinta-feira, 2 de julho de 2015

O VÍCIO DA OBRA


            Vivemos num plano de dualidade, onde os opostos podem ser compreendidos como complementares: Alto e baixo, claro e escuro... Prover e cuidar...
 Enquanto o prover caracteriza o aspecto masculino da geração, da construção do novo, o cuidar caracteriza o aspecto feminino da manutenção e conservação daquilo que foi gerado ou construído. Assim, se tomarmos como exemplo o convívio familiar, perceberemos que, mesmo em tempos atuais, em que as atribuições masculinas e femininas estão cada vez mais integradas, o prover e o cuidar servem de base para o funcionamento das relações familiares e sociais equilibradas. Ex: São tarefas de provimento comprar ou alugar uma casa, um carro, mobilhar a casa, comprar roupas e utensílios, fazer o jardim... Organizar a casa, fazer a manutenção e limpeza do carro, lavar e passar as roupas, lavar os utensílios e molhar as plantas são tarefas do cuidar. Se considerarmos esses dois aspectos em relação á criação dos filhos, teremos: Comprar material escolar para as crianças, dentifrício e escova... São atribuições do prover; Ensinar o dever às crianças e ensiná-las a escovar os dentes... São atribuições do cuidar, sejam essas tarefas realizadas pelo pai ou pela mãe. O problema em relação ao ponto de equilíbrio entre essas duas funções surge, quando, por exemplo, os pais compram o material escolar para os filhos, mochilas da moda... E não as acompanham nos deveres escolares. Os problemas surgem, quando, apesar de terem escovas dentárias atrativas e decoradas com os super-heróis, as crianças não são orientadas a escovarem os dentes, após as refeições. Tal procedimento transforma os objetos adquiridos em mero acúmulo de produtos de consumo, sem que eles cheguem a ser utilizados, efetivamente, na função para a qual foram criados e adquiridos. Se esse desequilíbrio entre o prover e o cuidar, no âmbito familiar é suficiente para desorganizar a vida, na medida em que extrapola para o âmbito municipal, estadual e federal, respectivamente, assume proporções caóticas, que geram um alto custo para a população, que confiou a função administrativa de sua casa comunitária (seja a cidade, o estado ou o país) ao “síndico” que elegeu, acreditando em suas habilidades e competências para o exercício do cargo ao qual se candidatou. Tomando o exemplo do gerenciamento da casa acima exposto, imaginemos como o desequilíbrio entre o prover e o cuidar tornam-se danosos à nossa sociedade: Um governo pode construir escolas e largá-las ao abandono; pode construir hospitais, inaugurá-los com muito alarde publicitário e não adquirir nem medicamentos nem instrumentos de intervenção, necessários ao seu funcionamento; pode reformar uma praça e fazer um lindo jardim, que depois ficará a espera de chuvas oportunas, para que seja regado. A isso, chamamos de “Vício da Obra”, uma tendência de predomínio do padrão masculino do prover sobre o padrão feminino do cuidar que, na maioria das vezes objetiva acordos regidos por interesses pessoais e licitações nem sempre muito éticas.
 Nossa sociedade está carente de cuidados, para que aquilo que foi adquirido na gestão anterior, por ter sido obra de outro, não seja deixado de lado, por mais útil que seja para a comunidade, gerando desperdícios dos recursos públicos.
Que sejamos conscientes de que, os bens públicos mal administrados, ocasionarão a perda daquilo que muitas vezes foi adquirido com fins eleitoreiros, para depois, simplesmente ser abandonado, como tantas vezes já vimos acontecer com máquinas, equipamentos, medicamentos...
Com base nessas reflexões, vamos restabelecer o ponto de equilíbrio entre o prover e o cuidar, nas diferentes instâncias administrativas da nossa sociedade? Seja em nossa casa, em nossa cidade, em nosso estado ou país, vamos substituir o vício da obra pelo saudável hábito de preservarmos aquilo que adquirimos, na maioria das vezes, às custar de tanto esforço pessoal ou coletivo? Vamos aprender a cuidar melhor de tudo o que temos?




[1] SUELI MEIRELLES: Psicóloga Clínica do CIT – Colégio Internacional de Terapeutas e Coordenadora do CIT/Nova Friburgo. Hipnoterapeuta e Terapeuta de Regressão.
 Pesquisadora, Fundadora e Coordenadora do CARROSSEL DE LUZ – Grupo de Pesquisas Noéticas
Membro do CIT/ALUBRAT/UNIPAZ/IONS
Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral, Ecologia Integral e Educação para a Paz.

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