quinta-feira, 2 de outubro de 2014

OS QUATRO TIPOS DE AMOR



            Cantado e decantado pelos poetas de todos os tempos, o amor ocupa um lugar central na vida dos seres humanos. Para o dicionarista, Mestre Aurélio, amar é sinônimo de desejar o bem do outro, mas, na vida real, a questão não parece ser tão simples assim. O significado que cada um atribui ao amor é muito pessoal, podendo variar numa gradação que vai desde o sentido de permitir ser amado; de apenas receber amor, até o sentido mais sublime do amor doação, que muitos poucos conseguem realmente alcançar.
            O primeiro tipo de amor é Phornéia, o amor sexualizado e antropofágico, tão praticado na sociedade atual. Este é o amor que consome, que se alimenta do outro, que o usa para o seu próprio prazer. Phornéia é uma espécie de amor utilitário, segundo o qual, o homem desfila com uma mulher bonita, exibindo-a como um troféu, capaz de despertar a inveja dos “amigos”, mesmo que, no mais íntimo do seu ser, saiba que a bela jovem (que também é Phornéia), está com ele, apenas em função dos benefícios financeiros que possa usufruir com tal relacionamento. É uma espécie de amor comercializado, em que ocorre uma troca de interesses; inclui um acordo não verbalizado, segundo o qual, de antemão, ambos os lados sabem que esta é a regra do jogo, enquanto ele durar. Neste tipo de “amor”, os sentimentos afetivos não costumam ser considerados, ou são confundidos com o desejo que um é capaz de despertar no outro, mesmo que não tenham nenhum tipo de afinidade mais profunda, além da química sexual que alimenta a relação. Phornéia está sempre presente nas relações fortuitas, tão ao gosto dos amantes de ocasião.
            O segundo tipo de amor é Eros, o amor romântico que idealiza o outro, nele colocando uma capa de príncipe ou de princesa que, no decorrer do relacionamento será rompida pela emergência dos aspectos negativos da personalidade de cada um, trazendo uma série de decepções, pelas expectativas não atendidas, de parte a parte. Eros costuma ter origem nas projeções que cada um faz sobre o outro, do masculino ou feminino idealizado em seu inconsciente, na adolescência. Eros sempre espera que o outro seja perfeito; que permaneça junto; que goste das mesmas coisas, numa espécie de relação simbiótica e sufocante, na qual não sobra espaço para a individualidade de cada um. Eros se baseia num contrato secreto, que nunca foi verbalizado, mas que, quando desrespeitado, cria mágoas e ressentimentos, que vão se acumulando no decorrer do tempo, enquanto o relacionamento durar. Eros costuma estar presente nos primeiros anos de casamento, até que as idealizações sejam confrontadas com os aspectos negativos da personalidade do outro, que geralmente não foram vistos durante o namoro. Eros busca a “Cara-metade”, esperando que o outro complemente aquilo que lhe falta, dessa forma impedindo que este lado cresça, para que cada um se torne um ser humano inteiro.
O terceiro tipo de amor é Philia, o amor fraterno, que busca concretizar ideais por afinidade. Expressa-se através dos ideais comunitários. Situa-se no mundo das idéias que promovem as transformações sociais, políticas e econômicas, agregando pessoas em torno de objetivos em comum.
            O quarto tipo de amor é Ágape, o amor doação. Ágape é um amor maduro e consciente quanto às qualidades e defeitos do outro, que não espera que ele (a) seja perfeito (a) para ser amado. Ágape é o amor que incentiva a livre expressão do ser que o outro é; que deseja o sucesso e a realização; que perdoa, porque não se identifica com as dificuldades que o outro apresenta, mas procura ver o que o outro faz de bom. Ágape aceita a humanidade do ser amado, porque sabe que seres humanos erram e acertam, e que, juntos, podem caminhar em direção a um relacionamento evolutivo que é construído no dia-a-dia da vida. Ágape não cria expectativas e, por isso, não se decepciona. É um tipo de amor que valoriza a individualidade e a expressão de cada um, procurando abrir caminho para a auto-realização. No relacionamento do tipo Ágape, cada um é um ser humano inteiro e responsável por si próprio. Capaz de compartilhar os bons e maus momentos da vida, sem responsabilizar a ninguém pelos seus erros e acertos. Ágape é um amor livre das mágoas e dos ressentimentos que podem ser gerados pelos três outros tipos de amor, embora possa também incluí-los como “temperos”, que podem preencher determinados momentos da vida, sem que constituam a sua essência.

            Ágape é como os heróis dos contos de fadas: Atravessa os pântanos dos piores aspectos dos outros, enfrenta os assustadores dragões dos defeitos do outro, até alcançar o castelo elevado do verdadeiro amor, que é construído  justamente nessa travessia das imperfeições de cada um, em busca da essência perfeita que todo ser humano traz dentro de si. Nele, enfim, o Eu Superior, de cada um poderá encontrar a felicidade que tanto procura...

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