Cantado
e decantado pelos poetas de todos os tempos, o amor ocupa um lugar central na
vida dos seres humanos. Para o dicionarista, Mestre Aurélio, amar é sinônimo de
desejar o bem do outro, mas, na vida real, a questão não parece ser tão simples
assim. O significado que cada um atribui ao amor é muito pessoal, podendo
variar numa gradação que vai desde o sentido de permitir ser amado; de apenas
receber amor, até o sentido mais sublime do amor doação, que muitos poucos
conseguem realmente alcançar.
O
primeiro tipo de amor é Phornéia, o amor sexualizado e antropofágico, tão
praticado na sociedade atual. Este é o amor que consome, que se alimenta do
outro, que o usa para o seu próprio prazer. Phornéia é uma espécie de amor
utilitário, segundo o qual, o homem desfila com uma mulher bonita, exibindo-a
como um troféu, capaz de despertar a inveja dos “amigos”, mesmo que, no mais
íntimo do seu ser, saiba que a bela jovem (que também é Phornéia), está com
ele, apenas em função dos benefícios financeiros que possa usufruir com tal
relacionamento. É uma espécie de amor comercializado, em que ocorre uma troca
de interesses; inclui um acordo não verbalizado, segundo o qual, de antemão,
ambos os lados sabem que esta é a regra do jogo, enquanto ele durar. Neste tipo
de “amor”, os sentimentos afetivos não costumam ser considerados, ou são
confundidos com o desejo que um é capaz de despertar no outro, mesmo que não
tenham nenhum tipo de afinidade mais profunda, além da química sexual que
alimenta a relação. Phornéia está sempre presente nas relações fortuitas, tão
ao gosto dos amantes de ocasião.
O
segundo tipo de amor é Eros, o amor romântico que idealiza o outro, nele
colocando uma capa de príncipe ou de princesa que, no decorrer do
relacionamento será rompida pela emergência dos aspectos negativos da
personalidade de cada um, trazendo uma série de decepções, pelas expectativas
não atendidas, de parte a parte. Eros costuma ter origem nas projeções que cada
um faz sobre o outro, do masculino ou feminino idealizado em seu inconsciente,
na adolescência. Eros sempre espera que o outro seja perfeito; que permaneça
junto; que goste das mesmas coisas, numa espécie de relação simbiótica e
sufocante, na qual não sobra espaço para a individualidade de cada um. Eros se
baseia num contrato secreto, que nunca foi verbalizado, mas que, quando
desrespeitado, cria mágoas e ressentimentos, que vão se acumulando no decorrer
do tempo, enquanto o relacionamento durar. Eros costuma estar presente nos primeiros
anos de casamento, até que as idealizações sejam confrontadas com os aspectos
negativos da personalidade do outro, que geralmente não foram vistos durante o
namoro. Eros busca a “Cara-metade”, esperando que o outro complemente aquilo
que lhe falta, dessa forma impedindo que este lado cresça, para que cada um se
torne um ser humano inteiro.
O terceiro tipo de amor é Philia, o amor
fraterno, que busca concretizar ideais por afinidade. Expressa-se através dos
ideais comunitários. Situa-se no mundo das idéias que promovem as
transformações sociais, políticas e econômicas, agregando pessoas em torno de
objetivos em comum.
O
quarto tipo de amor é Ágape, o amor doação. Ágape é um amor maduro e consciente
quanto às qualidades e defeitos do outro, que não espera que ele (a) seja
perfeito (a) para ser amado. Ágape é o amor que incentiva a livre expressão do
ser que o outro é; que deseja o sucesso e a realização; que perdoa, porque não
se identifica com as dificuldades que o outro apresenta, mas procura ver o que
o outro faz de bom. Ágape aceita a humanidade do ser amado, porque sabe que
seres humanos erram e acertam, e que, juntos, podem caminhar em direção a um
relacionamento evolutivo que é construído no dia-a-dia da vida. Ágape não cria
expectativas e, por isso, não se decepciona. É um tipo de amor que valoriza a
individualidade e a expressão de cada um, procurando abrir caminho para a
auto-realização. No relacionamento do tipo Ágape, cada um é um ser humano
inteiro e responsável por si próprio. Capaz de compartilhar os bons e maus
momentos da vida, sem responsabilizar a ninguém pelos seus erros e acertos.
Ágape é um amor livre das mágoas e dos ressentimentos que podem ser gerados
pelos três outros tipos de amor, embora possa também incluí-los como
“temperos”, que podem preencher determinados momentos da vida, sem que
constituam a sua essência.
Ágape
é como os heróis dos contos de fadas: Atravessa os pântanos dos piores aspectos
dos outros, enfrenta os assustadores dragões dos defeitos do outro, até
alcançar o castelo elevado do verdadeiro amor, que é construído justamente nessa travessia das imperfeições
de cada um, em busca da essência perfeita que todo ser humano traz dentro de
si. Nele, enfim, o Eu Superior, de cada um poderá encontrar a felicidade que
tanto procura...
Maravilha de texto, amiga! Respira e inspira Ágape
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