Como de hábito, ao escrever, gosto de pesquisar dois
magníficos livros de psicologia: O Dicionário e a Bíblia. Como a linguagem
determina a visão de mundo, nada melhor do que conhecer os significados mais
profundos dos termos, para uma compreensão mais precisa e aplicação na vida
diária, mantendo a boa comunicação e do bom
relacionamento com os nossos semelhantes. Linguísticamente, “perdoar[1]
tem o sentido de: ato pelo qual uma pessoa é desobrigada de cumprir o que era
de seu dever ou obrigação por quem competia exigi-lo.” Ou
então:
“Na
Bíblia, a palavra grega traduzida “perdão” quer dizer literalmente “abrir mão,
deixar ir embora. Perdoamos outros quando deixamos de guardar ressentimento.
Além disso, abrimos mão de qualquer compensação pelas mágoas ou prejuízos que
tivemos. A Bíblia ensina que o verdadeiro perdão nasce de um amor que não
procura seus próprios interesses. Esse amor “não contabiliza os erros”
(Coríntios 13:4,5) [2]
Mas, voltando à lingüística, deixar o que ir embora?
Observamos que na dinâmica do perdão existe um processo de julgamento do
comportamento do outro, seja em termos de dívida financeira, moral, ética,
emocional..., tendo como conseqüência a retirada do nosso afeto pela outra
pessoa e a transformação desse afeto em ressentimento. Então, perdoar significa sermos capazes de
deixar que as expectativas frustradas em relação ao outro, possam ser levadas
pelo rio da vida, para que as mágoas ou más águas não fiquem retidas em nossos
corações. E este é um ponto fundamental no processo de perdoar, que se inicia
com o acolhimento de nossos sentimentos negativos de raiva. desejo de revide ou
mesmo vingança, como reações ao não atendimento de nossas expectativas. Estes sentimentos precisam ser esvaziados,
com humildade e reconhecimento de nossa imperfeição humana, ao esperarmos que o
outro nos corresponda e siga nossos modelos de mundo, seja em ações ou
sentimentos condizentes com nossos valores. Jean-Yves, Leloup[3], um dos Fundadores da
UNIPAZ – Universidade Internacional da Paz nos ensina que “perdoar
significa nos desidentificarmos com os erros do outro”; e
também com nossos próprios erros. Significa que a liberação de nossos
ressentimentos abre espaço para o novo em nossos corações, permitindo-nos
seguirmos adiante, em nossos próprios caminhos, para que a atenção fixa no erro
do outro não nos retenha; é preciso deixar que o passado realmente fique no
passado.
Compreendendo o sentido
e o processo de perdoar, ainda precisamos identificar quem será o receptor do
pedido ou da concessão de nosso perdão. Assim temos o perdão quádruplo:
1.
Perdoar
a si mesmo (a): Para algumas pessoas, este primeiro tipo de
perdão pode ser o mais difícil, porque tem como pré-requisito, a humildade
necessária para que possamos nos reconhecer como seres falhos e imperfeitos.
Aceitar justamente esta dimensão humana que tentamos esconder ou combater, na
tentativa de alcançarmos a perfeição divina.
2.
Pedir
perdão ao Deus, pelos próprios erros: Este segundo tipo de
perdão, de certo modo, ainda está relacionado ao requisito de humildade,
porque, se consideramos que não somos dignos de sermos perdoados, ficaremos nos
flagelando emocionalmente, por sentimentos de culpa decorrentes de conceitos autopunitivos,
como se o castigo fosse necessário para a nossa aprendizagem. Este é um padrão
humano. Compreender que Deus é Pai Amoroso e que o nosso sofrimento não tem
nenhuma utilidade para o Perfeito Plano Divino nos liberta da busca de autopunição
desnecessária à nossa evolução.
3.
Pedir
perdão a quem tenhamos prejudicado, com os nossos erros: A
humildade e o arrependimento sinceros, decorrentes do reconhecimento de nossos
erros, ajudam-nos a buscar o perdão daquele a quem tenhamos prejudicado,
levando-nos a possível reparação de nossos erros. Daí a importância da reflexão
diária sobre nossas ações, no contexto em que vivemos, tendo como foco a nossa
própria evolução. Que possamos nos voltar para a reconciliação e o fechamento
das situações conflituosas, pondo fim aos nossos remorsos e às mágoas daqueles
que cruzaram os nossos caminhos diários.
4.
Perdoar
àqueles que nos prejudicam, com seus erros: Tendo exercitado os
três primeiros tipos de perdão, podemos alcançar a prontidão necessária para
deixarmos que o rio da vida leve por água abaixo, os erros alheios, como
espinhos que vão flutuando na correnteza do tempo, até se perderem no horizonte
longínquo.
Assim livres dos sentimentos
negativos em relação aos nossos erros e aos erros alheios, poderemos seguir a caminhada
da vida, com os passos leves e harmoniosos gerados pela consciência de que tudo
passa, deixando-nos a aprendizagem das experiências vividas. Para isso,
recebemos um Cartão de Crédito Diário de 490 perdões... Com certeza, no
decorrer da vida, nem precisaremos utilizar todos esses os créditos, mas
aqueles que forem bem aplicados resultarão na aquisição da felicidade que não tem
preço...
Sueli Meirelles, em Nova Friburgo, 15 de Dezembro de 2017.
Sueli Meirelles: Professora,
Pesquisadora e Especialista em Psicologia Clínica (UGF-1986). Escritora e
Palestrante. MBA em Educação para a Paz (UNIPAZ-2005).
Compartilhe e ajude a formar a massa crística da nova consciência planetária.
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