Walter
Ferreira da Rosa Ribeiro, um dos precursores da Gestalt-Terapia no Brasil, em
seu artigo publicado no livro “Visão Holística em Psicologia e Educação (pág.
61)”, desperta nossa atenção para o “esquecimento” da dimensão holística da
Gestalt.
No
seu entender, precisamos ter dois propósitos básicos em mente:
1) “Compreender a explosão
prematura do fenômeno Gestalt-Terapia e as inevitáveis distorções ocorridas por
isso:
2) “Procurar clareza crescente de nossa prática, através de maior
compreensão de nossas
origens filosóficas e científicas.”
Tomando
por base o seu alerta, iremos aqui desenvolver esses dois tópicos, buscando
torná-los fundamentais pontos de reflexão de nossa prática terapêutica, uma vez
que, inevitavelmente, todo “fazer” está baseado num “crer” ; numa filosofia;
num conjunto de pressupostos que irão nortear nossas atuações profissionais.
Considerando-se
a própria história da Psicologia, constataremos que, no início do século, nos
Estados Unidos, o Behaviorismo encontrou um campo fértil para o seu
desenvolvimento dentro do positivismo pragmático característico daquele povo.
Considerando-se
ainda a coincidência do surgimento da Gestalt-Terapia com a segunda guerra
mundial, obrigando Fritz e Laura Perls a refugiarem-se primeiramente na
Holanda, depois na África do Sul, Estados Unidos (Laura) e Canadá (Perls).
Considerando também que esse era um tempo de autoritarismo, onde a filosofia
dominante era o positivismo pragmático, mais condizente com o Behaviorismo
condicionador do que com os princípios de consciência e auto-responsabilidade
defendidos pela Gestalt; observando-se ainda o movimento de contestação que
surgiu na década de 60, quando a Gestalt-Terapia desabrochou na Califórnia,
verificamos que essa abordagem, enquanto teoria e corpo de conhecimento
científico, pode ser considerada um fruto colhido antes do tempo.
Tais
condições históricos conduzem uma teoria, invariavelmente, a distorções na
compreensão dos seus aspectos fundamentais, tendo como conseqüência uma prática
dissonante da filosofia original.
Hoje,
decorridos mais de 40 anos, temos um novo momento histórico. Com as descobertas
da física moderna, abre-se campo para uma nova forma de perceber o mundo e a
vida. É tempo de transformações, liberdade e auto-responsabilidade. Os velhos
modelos sociais tornaram-se obsoletos. Urge que se construa um novo modelo,
capaz de ordenar toda a fragmentação de uma sociedade em decadência. Hoje,
busca-se a síntese, o holismo. E holismo quer dizer totalidade, assim como
gestalt quer dizer totalidade, fechamento e, conseqüentemente, síntese, também.
Em
função do momento histórico atual, o alerta de Walter Ribeiro torna-se
primordial para que possamos situar a Gestalt-Terapia dentro do novo paradigma
holístico, ora emergente. É tempo de retornarmos às origens filosóficas da
Gestalt. Hoje, mais do que nunca Perls é atual. É atualíssimo. Num tempo sem
modelos, sem parâmetros, a consciência, agora desperta em outro nível; o
Self-Support; a auto-responsabilidade; o aqui-e-agora, diante de um futuro
pouco previsível, e tantos outros pressupostos gestaltistas podem servir de
base para a redescoberta do potencial interno do ser humano, para a
orientação do caminho de cada um, a
partir de si mesmo.
A
Gestalt, com sua fundamentação fenomenológica-existencial abre espaço para a
busca da autenticidade do ser humano, em contrapartida ao ranço de positivista
pragmático, que ainda hoje é alardeado como solução para todos os problemas
humanos.
Quando
realmente falamos em totalidade, em Gestalt, em holismo, não basta a panacéia
das mil frases positivas. Não será ignorando a polaridade negativa que iremos
alcançar o equilíbrio. Se antes privilegiamos o hemisfério cerebral esquerdo, o
racionalismo e o pensamento pragmático, hoje , ser holístico, não significa
situarmo-nos no outro extremo do hemisfério cerebral direito, com seu potencial
de intuição e criatividade. Holismo é, acima de tudo, o caminho do meio com
suas oscilações naturais à direita e à esquerda, podendo, a nível
neurofisiológico, ser representado pelo corpo caloso, a estrutura que interliga
os dois hemisférios cerebrais, permitindo a intercomunicação entre as suas
várias funções, tornando possível o retorno do homem à sua inteireza
CORPO-MENTE-ESPÍRITO, permitindo ao SER o reencontro da sua plenitude e o
fechamento da sua GESTALT.
Esta visão do Ser em sua
totalidade CORPO-MENTE-ESPÍRITO é o enquadre profissional dentro do qual eu
trabalho e dá origem a uma metodologia também holística, que integra os métodos
de análise e síntese num estado dinâmico entre o todo e as partes que o constituem.
Exponho, a seguir, um quadro comparativo entre o Método Analítico e o Método
Sintético, conforme a abordagem feita por Roberto Crema, Antropólogo e
Psicólogo Transpessoal, em “O Novo Paradigma Holístico.”
2.1 QUADRO COMPARATIVO ENTRE O MÉTODO
ANALÍTICO E O MÉTODO SINTÉTICO
MÉTODO ANALÍTICO
|
MÉTODO SINTÉTICO
|
Reação ao dogmatismo e obscurantismo medieval
|
Reação ao racionalismo positivista e analisicismo moderno
|
Ênfase na parte
|
Ênfase do todo
|
A serviço da decomposição
|
A serviço da unificação
|
Fatos específicos, particulares
|
Realidade plena, total
|
Tendência reducionista
|
Tendência ampliativa, globalista
|
Via quantitativa
|
Via qualitativa
|
Caráter mecanicista
|
Caráter organicista
|
Fundamentos principais: razão e sensação
|
Fundamentos principais: emoção e intuição
|
Somático (5 sentidos clássicos)
|
Psíquico
|
Necessidade de Leis
|
Liberdade e responsabilidade
|
Determinista
|
Indeterminista
|
Exatidão, regularidade
|
Incerteza, flexibilidade
|
Codificação matemática
|
Codificação poética-metafórica
|
Reprodutividade
|
Unicidade
|
Previsibilidade
|
Imprevisibilidade (inclui o mistério)
|
Geral, regularidade
|
Singular, biográfico
|
Inclinação indutiva
|
Inclinação dedutiva
|
Progressividade, acumulação
|
Instantaneidade, descontinuidade
|
Relação causal
|
Relação acausal: sincronicidade
|
Ponto de vista da causalidade (porque)
|
Ponto de vista da finalidade (sentido, para que)
|
Espaço externo (exterioridade)
|
Espaço interno (interioridade)
|
Nível do objeto
|
Nível do sujeito
|
Realidade objetiva
|
Consciência, valores
|
Experimental
|
Experimental
|
Hemisfério cerebral esquerdo
|
Hemisfério cerebral direito
|
Exclusão do sujeito (dualidade)
|
Inclusão do sujeito (não dualidade)
|
Função explicativa
|
Função compreensiva
|
Aplicado às ciências da natureza
|
Aplicado às ciências do espírito
|
Alguns Menores: Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Freud,
Berne
|
Alguns Mentores: Diltey, Smuts, Jung, Soler, Frankl,
Krishnamurti,
|
Pelo
que aqui foi exposto, podemos observar que ter uma visão holística da
Gestalt-Terapia significa simplesmente ter um novo enquadre terapêutico; um
enquadre mais amplo para os mesmos procedimentos. Isto significa dizer que o
que se modifica não é o conjunto de técnicas utilizadas mas, o modo como estas mesmas técnicas são
utilizadas e a escuta terapêutica mais ampla, que se faz sobre o material
emergente na situação terapêutica permitindo que muitos estados, antes
considerados como surtos psicóticos, possam ser agora compreendidos como
fenômenos de estados alterados de consciência possíveis ao homem, quando este
se abre para outras dimensões de vida.
Sueli Meirelles: Professora, Pesquisadora e Especialista em Psicologia
Clínca. (UGF/RJ- 1986) . Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral,
Ecologia Integral e Educação para a Paz. Escritora e Palestrante. Site: http://www.suelimeirelles.com Whatsapp: 55 22 999.557.166
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