Numa
certa cidade, três cegos discutiam sobre como seria um elefante, sem que
conseguissem chegar a uma conclusão. Depois de algum tempo de impasse, os três
decidiram ir juntos até um zoológico, para esclarecerem suas dúvidas. Lá chegando,
o primeiro cego tocou a pata do elefante, até onde sua mão alcançava,
concluindo que um elefante era firme e ereto, como uma grande pilastra. O
segundo cego, tocando a orelha do animal, constatou que um elefante era como um
grande e flexível abano. O terceiro cego, tocando a tromba do elefante,
identificou-o como um longo e maleável tronco. A conclusão da estória é que os
três saíram dali discutindo mais do que nunca, depois que cada um, a partir da
própria experiência, encontrou resultados diferentes dos outros. Assim é a
verdade de cada um, e por isso existem tantas divergências diante da mesma
realidade.
As pessoas podem ser predominantemente
visuais, auditivas ou sinestésicas, sofrendo as influências de seus canais
sensoriais frente à realidade. Enquanto uma pessoa visual apreende as imagens
de uma situação, o auditivo presta mais atenção aos sons e o sinestésico às
sensações que a situação lhe passa, fazendo com que um mesmo fato seja
percebido de diferente forma por cada pessoa. Acrescente-se a isto os fatores
emocionais que influenciam a percepção humana, o ângulo e o conjunto de valores
que cada um privilegia, e teremos a confusão generalizada que caracteriza os
contextos grupais de hoje. Seja na família, no trabalho ou na sociedade, as
opiniões divergem sobre os mais diferentes assuntos. Tal fato nos mostra que a
percepção humana é sempre relativa, e que a verdade absoluta é uma coroa grande
demais para as pequenas cabeças humanas. As pessoas mais rígidas,
principalmente, apresentam a tendência
para generalizar suas opiniões, agindo como donas da verdade e acreditando que
sempre sabem o que é melhor para os outros.
Nos contextos grupais, o ideal é que
cada pessoa se mantenha atenda para perceber que a sua verdade é relativa à sua
própria experiência sensorial (como no caso dos cegos) podendo ser totalmente
diferente para outras pessoas, em outros contextos, ou ainda, em outros
momentos de vida. Tal postura evita que se criem muitos conflitos
desnecessários, principalmente em relação àqueles assuntos mais apaixonantes
(futebol, política ou religião), em relação aos quais, cada pessoa está menos
disposta a abrir mão de seus conceitos pré-estabelecidos.
Se logo no início de uma
divergência, cada pessoa procurar colocar-se no lugar do outro, torna-se
possível uma ampliação da própria percepção para os referenciais do
interlocutor, facilitando a compreensão da linha de raciocínio que o outro está
seguindo, com respeito pela opinião alheia, independentemente de aceitá-la ou
não. Aliás, este é o ponto chave da convivência em grupo: Conseguir conviver
com a diversidade que caracteriza a vida humana. Se cada pessoa puder aceitar
que o que é bom para ela, pode não ser para outra pessoa, sem querer impor ao
outro seus conceitos e valores, a vida pode tornar-se bem mais fácil. Embora,
em níveis de consciência mais altos e mais sutis, todos possam chegar à
compreensão da unidade que nos permeia, quanto mais estivermos voltados para a
densidade do mundo material, maiores serão as divergências encontradas. Esta multiplicidade
de valores e opinião ocorre porque, cada pessoa, psiquicamente funciona num
diferente estado de consciência, como se vivesse num mundo particular, cuja
percepção é filtrada por suas emoções e experiências, tornando-se, às vezes,
muito difícil (principalmente para aqueles que pensam de forma mais concreta)
alcançar as percepções mais abstratas e mais complexas, que podem parecer tão
simples para a outra pessoa.
Sueli Meirelles: Professora, Pesquisadora e Especialista em Psicologia Clínica. Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral, Ecologia Integral e Educação para a Paz. Escritora e Palestrante. Site: www.suelimeirelles.com Whatsapp: 55 22 999.557.166
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