segunda-feira, 5 de março de 2018

A ORIGEM DOS MEDOS INFANTÍS - Desenvolvimento Infantil


         Geralmente os adultos acreditam que as crianças não se lembram ou não entendem a maior parte das coisas que ocorrem ao seu redor. Isto os leva a dar pouca ou nenhuma importância às interpretações que as crianças possam dar aos acontecimentos.
                Trabalhando com regressão de memória, observamos justamente o contrário. Se é verdade que a memória consciente surge a partir do terceiro ano de vida, a memória inconsciente registra tudo o que ocorre desde a fase da concepção e muito além... Por esse motivo, muitos distúrbios de comportamento, depressões, medos, fobias e até mesmo síndromes de pânico podem ter origens na fase da primeira infância (de 0 a 7 anos), quando a estrutura de personalidade está sendo formada. Neste importante processo, a função do adulto seria atuar como um cicerone para o imigrante que chega ao planeta, com o objetivo de viver sua experiência de aperfeiçoamento. Como, em sua maioria, os adultos desconhecem esta função, agem sem nenhuma consciência das futuras conseqüências, geradas pela maneira como lidam com as crianças. Comumente observamos adultos incutindo todo tipo de medo às crianças, com o único intuito de conseguir-lhes a obediência. Orientar a criança com relação aos limites do que lhe é permitido ou não, explicando-lhes os motivos do impedimento, ajuda-a a desenvolver a capacidade avaliativa necessária para a construção de um código de comportamento, em termos de certo e errado. Dizer simplesmente para a criança: _”Não vá para a escada porque o bicho vai lhe pegar”, é uma proposição, no mínimo, desrespeitosa para com um ser humano em formação, pois a criança acredita fielmente em tudo o que os adultos lhes dizem. Além disso, perde-se a oportunidade de orientar a criança sobre os possíveis riscos ao brincar numa escada, o que seria útil que ela aprendesse. Nestas situações observamos ainda, que os adultos, muitas vezes, estão simplesmente reproduzindo comportamentos que foram utilizados com eles mesmos, na infância, num ciclo infindável de repetições inúteis e perniciosas, que se perdem na sucessão das gerações. Se quisermos eliminar esta triste fonte geradora de tantos conflitos psicológicos, faz-se urgente que se reavalie a função do adulto como educador e formador da personalidade de um novo ser humano. Se utilizarmos um critério de honestidade para com as crianças, orientando-as quanto aos riscos reais da vida e sobre a melhor maneira de enfrentá-los, estaremos desenvolvendo-lhes  a autonomia necessária para que se tornem adultos conscientes.
         Neste sentido, tudo aquilo que não seja verdadeiro ou que represente uma distorção da realidade deve ser evitado no relacionamento com as crianças: usar palavras com pronúncia errada (para depois ter o trabalho de corrigí-las) ou incutir na criança medo de escuro, temporal, ladrão, fantasmas, bichos “velhos que pegam” etc, numa idade em que a criança acredita em tudo que lhe é dito, pois ainda não tem uma capacidade avaliativa para compreender que adultos mentem, é fator gerador de neurose. Se realmente queremos uma sociedade melhor, precisamos começar pela reformulação da nossa maneira de lidar com aqueles que constituirão o mundo de amanhã; precisamos fazer uma séria reflexão sobre a visão de mundo que estamos transmitindo e, sobretudo, qual a utilidade dos comportamentos que temos com as crianças, pois a maioria dos medos infantis têm origem no comportamento aprendido com os adultos.

Sueli Meirelles: Professora, Pesquisadora e Especialista em Psicologia Clínica. Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral, Ecologia Integral e Educação para a Paz. Escritora e Palestrante. Site: www.suelimeirelles.com. Whatsapp: 55 22 999.557.166

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