Tradução

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O CONTRATO SECRETO DO RELACIONAMENTO



            Quando falamos em vida a dois, pensamos num casal, num homem e numa mulher, que decidem, por diferentes razões, compartilhar suas vidas. Aquilo que parecia uma proposta simples de compartilhar duas vidas, gradativamente começa a adquirir uma complexidade que, na maioria dos casos, resulta num intrincado novelo, onde os fios se multiplicam, sem que se saiba exatamente com eles surgem. Muitas vezes esses fios formam nós, cuja única solução parece ser o corte definitivo da separação. Mas, por que isto acontece?
            Em primeiro lugar, o que chamamos “vida a dois” é um relacionamento que tem como modelos os pais do casal, com seus aspectos positivos e negativos de personalidade. A mulher tentará reproduzir o que tenha sido positivo na personalidade de sua mãe; desejará que o marido seja parecido com o seu pai, em seus aspectos positivos. Inconscientemente, repetirá os aspectos negativos da personalidade de sua mãe e desaprovará os comportamentos do marido que sejam parecidos com os aspectos negativos de seu próprio pai. O marido, por sua vez, reproduzirá este mesmo quadro, fazendo com que o relacionamento a dois se transforme num relacionamento a seis: Os pais de ambos, mais o casal. Como se isto não bastasse, cada um dos cônjuges pode predominantemente ser visual, auditivo ou sinestésico, privilegiando aspectos que talvez para o outro não sejam significativos. Uma esposa visual irá valorizar decoração e filmes, enquanto um marido sinestésico irá preferir sentar-se à mesa de um bar, para alguns petiscos e um bom bate-papo, que deixará a esposa (visual) preocupada com a dieta e a forma física. Temos agora um relacionamento entre seis partes de cada lado: o cônjuge, seus pais e seus três canais sensoriais (visual, auditivo e sinestésico). Além disso, em cada um dos cônjuges interferem três partes psíquicas: O Pai Internalizado (conjunto de regras e valores, que estabelecem o que é certo ou errado), o lado adulto que pondera, avalia e decide, e o lado criança, que representa a parte emocional, movida pelos desejos inconscientes. Teremos, assim, nove partes de cada lado, o que significa, matematicamente, oitenta e uma possibilidades de atritos.
            Se as duas partes psíquicas responsáveis pelas regras entram em conflito, teremos uma disputa de poder entre o casal. Se num dos cônjuges predomina este lado de regras, tendo como contrapartida a criança interna do outro, as brigas serão entremeadas por mal-criações por parte do cônjuge mais imaturo. Se a criança interna de um for submissa, irá obedecer ao pai internalizado do outro cônjuge, transformando o casamento num relacionamento filial. Se os dois tiverem o predomínio da criança interna, o relacionamento será marcado pela irresponsabilidade, de ambas as partes. Some-se a tudo isso as expectativas que cada cônjuge cria em relação ao seu parceiro ou parceira, e ainda, as metas pessoais da vida de cada um, e teremos a explicação para o alto índice de separações que reduzem os mais lindos sonhos dos tempos de namoro, a um pacote de decepções de parte a parte.
            Quando promovemos a análise da linguagem de um casal, sejam namorados, noivos ou marido e mulher, identificamos os pontos de conflito que muitas vezes transformam a vida a dois num campo de batalha, em que o outro se torna o depositário das questões emocionais mal resolvidas na infância de cada um. Trazer estas questões à consciência é o primeiro passo para libertar o outro de expectativas que talvez ele ou ela jamais possa vir a satisfazer, para tornar-se um ser humano inteiro e responsável por sua própria felicidade.  A partir da sua auto-realização e do redirecionando da vida pessoal para metas que só dependam da própria pessoa e que, poderão ser compartilhadas com alguém que também busque concretizar seus próprios ideais,  duas pessoas realizadas e livres dos fantasmas de suas histórias de vida têm mais chances de serem felizes juntas.


                                                                                               SUELI MEIRELLES


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