Talvez nenhum outro sentimento seja tão presente no
inconsciente humano quanto o medo: Medo do escuro, medo de parto, medo da
morte, medo do desconhecido, medo da violência, medo de se expor... Medo de ser
o que realmente é. Medo de ter medo! Até chegar ao extremo das fobias e
síndromes de pânico. O medo está no ar... De onde vem tanto medo?
Vivemos numa cultura onde o medo é um dos instrumentos de
manutenção do poder. Historicamente, as execuções em praça pública, tinham a
função de mostrar àqueles que alimentavam revoltas surdas, o que lhes poderia
acontecer, caso se insurgissem abertamente contra o poder. Poder e lucro são
dois grandes aliados do medo, no controle das massas. Desde a mais tenra
infância, e até mesmo antes do nascimento, o medo pode estar presente no
inconsciente humano. Em alguns casos, a etiologia das epilepsias tem como fator
gerador, as surras que o pai alcoólatra infringia à mãe grávida. O próprio medo
do parto pode ficar instalado no inconsciente profundo do bebê, uma vez que ele
compartilha e absorve todos os sentimentos vivenciados pela mãe. Nos primeiros
meses de vida, ao ser atendido durante a noite, o bebê associa a presença de
alguém ao acender da luz, desenvolvendo medo do escuro. Algumas vezes este medo
é condicionado pelos adultos que o utilizam como recurso para que a criança os
obedeça: Tem bicho no escuro!... Outras vezes, as histórias sobrenaturais,
contadas pelos adultos, impressionam a mente infantil; ou ainda pode ocorrer
que a sua própria percepção extra-sensorial, leve a criança a temer o escuro,
já que não encontra explicação para as coisas que vê.
Medo de contrair doenças e medo de tomar injeção são
medos culturais, inculcados desde a infância. A ameaça de aplicar injeção
costuma ser instrumento de coerção em muitas famílias. O medo de doenças é
construído pela dissociação entre os sentimentos bloqueados e os sintomas que
eles alimentam. A idéia de que a doença é um fator externo que atinge o
organismo, é largamente cultivada pelos meios de comunicação e pelos formadores
de opinião, favorecendo laboratórios e planos de saúde (ou de doença?) milionários.
É o medo a serviço do lucro!
O medo do insucesso também cerceia o desenvolvimento
profissional. Ao invés de pensar na escolha profissional como uma expressão de
si mesmo, o jovem é direcionado pelas influências do mercado de trabalho que
apontam, através de pesquisas, as áreas de melhor resultado, como se isto fosse
garantia para ele ser bem sucedido. Mais uma vez, inverte-se o processo de
livre auto-expressão, para o processo de pressão social, levando milhares de pessoas
a seguirem carreiras que as frustram a cada dia, pelo medo de se lançarem ao
desconhecido, em busca da realização pessoal. O próprio desconhecido, o novo,
pode ser fator gerador de medo, quando a falta de fé e de autoconfiança
enfraquecem o impulso necessário para vencer os obstáculos e alcançar as metas
pessoais.
O medo da velhice sustenta spas, aplicações de botox e
cirurgias plásticas. O medo da impotência vende viagra. O medo do sofrimento
leva à busca pela pílula mágica da felicidade. O medo da frustração leva ás
drogas, e as drogas levam a violência que explode através das portas abertas
dos porões do inconsciente coletivo da humanidade, no qual todas as paixões
humanas num extremo de desamor ao outro, conduzem a todo tipo de desvios de
comportamento. Desde as surras, desde as pequenas ou grandes torturas de pais
contra filhos, de filhos contra pais, de homem para homem, quer seja dentro da
família, na sociedade ou no planeta como um todo, atestam a ignorância e a
barbárie em que, evolutivamente, a humanidade ainda se encontra. Desnorteado, o
ser humano vagueia em busca de si mesmo, como se tivesse perdido o seu próprio
espírito em algum ponto da jornada e, por isto mesmo, perdendo o roteiro do caminho,
não sabendo mais onde quer chegar. O medo encolhe, tolhe, limita a todos
aqueles que não conseguem buscar dentro de si mesmos, através do autoconhecimento,
os recursos necessários para se livrarem dos grilhões culturais que acorrentam
a humanidade, há milênios, consumindo quantidades incríveis de forças psíquicas
que poderiam ser utilizadas de modo construtivo, a serviço da vida.
É preciso que se reverta este quadro, através do processo
educacional preventivo, ou do processo terapêutico curativo, facilitadores do
retorno ao eixo de si mesmo. Desde a infância, as crianças precisam conhecer o
poder construtivo do elogio sincero, que fortalece a autoconfiança e o poder
que vem do verdadeiro amor. Isto dá sentido à existência e é o ponto
fundamental de apoio para a travessia dos perigos reais ou imaginários que, a
todo momento, bloqueiam o fluxo vital.
Email: suelimeirelles@gmail.com
Whatsapp: (22) 999.557.166
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