Tradução

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A BREVE HISTÓRIA DE MEGUI - Artigo

 


“Bendito Dinheiro

Que recolhe o animal

Do chão do abandono e da morte,

Para dar-lhe melhor sorte..”[i]

 

        Como de hábito, fomos ao clube, à noite, para fazer sauna. Momento de descontração familiar, depois de um dia de trabalho. Embora o tempo estivesse meio frio, com possibilidade de chuva, minha filha foi ao nosso encontro e, logo depois, chegou meu genro. Meu marido e eu já havíamos feito sauna e ficamos ali, conversando, para depois sairmos todos juntos. Algumas outras pessoas, também conversavam, no bar da piscina.

        Em dado momento, vimos um dos funcionários[ii] caminhando até próximo ao gramado e voltando com expressão preocupada. Passando perto de nós, comentou que uma gatinha estava morrendo e talvez não passasse daquela noite. Diante disso, minha filha e eu fomos lá para ver de perto. Realmente a gatinha parecia estar em suas últimas forças. Lembrei-me de Mestre Francisco de Assis, protetor dos animais e voltei para a mesa, em busca de uma solução. De imediato, minha filha disse: _Vamos levá-la numa veterinária? Logo concordei com ela, pedindo ao mesmo funcionário que me desse umas luvas descartáveis e um saco de lixo, ao que ele atendeu prontamente. Calçando as luvas, peguei a gatinha, que em tempos anteriores seria arredia, agora totalmente entregue ao seu destino, colocando-a sobre o saco de lixo, agasalhando-a e aconchegando-a junto ao meu peito. Lembrei-me de quando fiz isto com nosso gato Pipo[iii]  há muitos anos atrás e a mesma sensação de amor incondicional, de imediato preencheu o meu peito, envolvendo a frágil e mirrada felina. Mais uma pequena contribuição de afeto, junto a outros sócios, também amantes de gatos. Movidas por este forte sentimento, minha filha e eu seguimos em busca de uma veterinária. Numa das avenidas principais de nossa cidade, encontramos uma clínica aberta, com telefone de contato para atendimento. Minha filha ligou e prontamente o veterinário se dispôs a vir nos atender, chegando logo depois. O diagnóstico preciso e imediato revelou que a pequena fêmea estava totalmente desidratada e anêmica em conseqüência do que, respirava ofegante. Feitos os exames clínicos iniciais, ela ficou internada para exames de laboratório e acompanhamento e voltamos para casa com a sensação de dever cumprido. Na manhã seguinte, ela ainda apresentou uma pequena melhora mas, ao final da tarde, sequer agüentou fazer os testes necessários para aprofundamento diagnóstico, vindo a falecer.

        Como sempre procurando identificar um sentido nas sincronicidades entre os eventos, perguntei-me por que nós estávamos lá, exatamente naquele horário, depois de um dia de boas notícias e momentos alegres. Qual o significado deste episódio, em conformidade com os acontecimentos do dia. Seria um teste de solidariedade[iv], diante de um Novo Tempo?... Que lições de vida  a pequena Megui estava nos trazendo?  Por que nos escolheu para aJudá-la a fazer a passagem com acolhimento, paz e serenidade? Mais um chamado à responsabilidade que todos nós, seres humanos, temos em relação aos seres dos reinos animal, vegetal e mineral?[v] ... Sei apenas que era nosso dever socorrer a pequena Megui e oferecer-lhe uma passagem digna e amorosa, para o seu retorno ao Plano Espiritual. Animais são almas-grupo, não têm carma e retornam ao plano material, em breve espaço de tempo. Será que Megui veio apenas reavivar o compromisso, em nossos corações?... Deixamos aqui a nossa gratidão e ela, por seu ensinamento e inspiração,  e também agradecemos àqueles que se uniram a nós, em solidariedade a pequena Megui, em sua breve passagem terrena... Que possamos aprender nossas simples e preciosas lições, na Escola da Vida, lembrando-nos de que também estamos aqui de passagem e, de modo paradoxal, levaremos apenas aquilo que tivermos doado de nós mesmos...

 

                                              Sueli Meirelles, em Nova Friburgo, 31 de Outubro de 2020.



[i] Link para o poema Maldito Dinheiro, Bendito Dinheiro: http://sueli-meirelles.blogspot.com/2020/10/maldito-dinheiro-bendito-dinheiro.html

[ii] Omitimos o nome do funcionário por questões éticas.