Tradução

segunda-feira, 5 de março de 2012

TEMPOS ESTRANHOS

            Vivemos num mundo em ebulição. Desde intensas alterações geológicas, climáticas, até as convulsões políticas, sociais, econômicas e religiosas, que transformam a vida moderna, neste caldeirão efervescente de paixões em conflito. Enquanto, na Índia, regiões alagadas, deixam famílias sem abrigo, um furacão varre o Caribe e atravessa a Ilha de Cuba, seguindo em direção à Califórnia, indiferente às divergências políticas, entre os países por onde passa. Em Londres, a população corre espavorida, surpreendida, num dia comum de trabalho, pela atividade fratricida de terroristas que, em nome de Deus, acreditam que a morte de seus semelhantes é o caminho para as reivindicações políticas que tanto desejam. Do outro lado, seus adversários, não menos causadores de terror do que eles consideram suas ações um atentado à humanidade, e ao mundo civilizado. Será que este mundo ainda é civilizado?...Em nosso país, a convulsão política ceifa cargos que pareciam estáveis, até que as sombras de suas atividades fossem iluminadas pela implacável luz da tecnologia informacional, revelando, ao vivo e a cores, o preço da moral de cada um. Para nosso espanto, a corrupção se afigura a Hidra de Lerna, o monstro mitológico de sete cabeças, cuja fome insaciável e voraz consome todos os recursos públicos. Como se tudo isto não bastasse, enquanto as instituições legais vão ruindo em meio ao ribombar dos escândalos, o governo paralelo do narcotráfico, fatura milhões de reais por mês, ceifando vidas e destruindo lares, em todas as classes sociais, até mesmo naquelas que poderiam ter o mundo a seus pés. Tontas no meio de tudo isso, sem saber como nem porque, as pessoas seguem suas vidas, fazendo as mesmas coisas de sempre, numa espécie de auto-hipnose esquizofrenizante, cujo objetivo parece ser a negação da insuportável diluição de seus valores existenciais, no imenso lamaçal em que se transformou a sociedade de hoje.
 A grande onda de transformações, trazida pelo Tsuname, parece começar a lavar o mundo de tanta podridão. Na Ásia, depois da grande tormenta, alguns sobreviventes refizeram suas vidas: Viúvos casaram-se com viúvas; pais que perderam seus filhos adotaram pequenos órfãos; estes ganharam novos pais, numa demonstração, de que o velho conceito de família consangüínea parece estar cedendo lugar à família solidária.
Nos meios televisivos, aumentam as propagandas em defesa da ecologia, mostrando-os que este jeito suicida de viver consome o equivalente a quatro planetas. Se este modo continuar, muito em breve, aqueles que lutam pelas riquezas do mundo terão muito pouco porque brigar.
Os estudiosos do assunto avisam que o tempo está acelerado, como se o planeta, mobilizado pelos seus enlouquecidos habitantes, tivesse pressa em se ver livre de tudo isso. Os estudiosos também dizem que o eixo da Terra está retornando à posição vertical, talvez numa tentativa de resgatar o equilíbrio da humanidade ensandecida, pela falta de limites, e de controle dos desejos do Ego. Enquanto isso, os arautos do Apocalipse tentam converter os pecadores, apregoando que as suas, são as melhores religiões, e que todos que estiveres fora delas, estarão, de antemão, condenados às penas do inferno. Como numa imensa feira de pregões, cada um tenta impressionar os seus semelhantes, pela força de seu grito.
 Ouvindo as conversas preocupadas dos adultos, neste mundo enlouquecido, as criancinhas reagem assustadas: Se este mundo vai acabar, qual será o futuro delas? Será que esta geração de adultos se preocupa com isto?... Que recordações este futuros adultos levarão dos adultos de hoje? Como, no decorrer do tempo, seus descendentes reagirão às memórias destes que hoje escrevem a história da humanidade? Talvez  no futuro eles possam aprender o que não fazer, com os erros de seus ancestrais.
Para aqueles que já percorreram algumas décadas da estrada do tempo, é fácil perceber a velocidade com que as mudanças estão acontecendo. Embora, a primeira vista, tudo pareça ter mudado para pior, também é verdadeiro que, nunca, em nenhum outro momento da história da humanidade, as pessoas tiveram tanta liberdade de escolha, para ser aquilo que realmente são. A cada um está sendo dado, de foro íntimo, o direito de ser tão honesto ou desonesto quanto seus princípios lhes podem permitir. Nunca a Lei do Livre Arbítrio foi exercida com tanta autonomia, indicando que a próxima civilização que irá se desenvolver será muito ética, como conseqüência do movimento pendular da própria evolução, que oscila de um extremo ao outro, até encontrar o seu ponto de equilíbrio...

                                                                                      SUELI MEIRELLES

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