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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

MEDICALIZAÇÃO DA VIDA


            Em artigo publicado no Jornal do Conselho Regional de Psicologia, uma síntese de Dissertação de Mestrado sinaliza o grave problema da medicalização da vida: Desde as depressões, síndromes de pânico, hipertensão arterial, até a hiperatividade e dificuldades de aprendizagem, passando pelos problemas sexuais de uma população estressada e oprimida por múltiplos problemas sócio-econômicos, tudo, absolutamente tudo é reduzido à falsa idéia de que a pílula mágica resolve todos os problemas, sem que o paciente tenha que parar para rever seus conceitos de vida.
Desde que a química descobriu o efeito das substâncias sobre o organismo humano, no século XVII, desenvolveu-se o hábito de “combater” os sintomas, sem que, efetivamente, haja uma preocupação em buscar as suas causas, as quais, obrigatoriamente, estão relacionadas a dinâmica que cada pessoa estabelece com o mundo externo.
            Hoje, a bilionária “Indústria da Doença” investe mais na propaganda de medicamentos, para todos os tipos de mazelas humanas, do que em pesquisas, principalmente aquelas que afetam as populações de baixa renda (como a doença de chagas e a febre amarela), que não se encaixa no perfil de “bom consumidor”.
            As pesquisas realizadas restringem-se àquelas que podem resultar no aumento do consumo de medicamentos. Pesquisas sobre os efeitos da meditação sobre a hipertensão arterial; pesquisas sobre os efeitos da alimentação saudável sobre o organismo; pesquisas sobre os efeitos da psicoterapia sobre as doenças psicossomáticas, não têm patrocínio; pelo contrário, sofrem um processo subliminar de desvalorização, em programas televisivos que indagam, em alto e bom som, “se” elas, efetivamente, produzem resultados, embora estes, desde há muito já tenham sido comprovados, na longa prática dos consultórios. Fala-se sobre a hipertensão secundária (causada pelo mau colesterol), mas não se fala sobre a hipertensão primária (causada pelo estreitamento das artérias, por tensão nervosa); não se fala do diabetes de origem emocional (causado pela alteração bioquímica dos comandos emocionais originados no hipotálamo (este comanda sede, sono, sexo, temperatura e pressão arterial, e todas estas funções podem ser afetadas por descargas emocionais, que produzem alterações bioquímicas no organismo).
Massificada pela propaganda diária, a população (principalmente a brasileira, a quem são ainda vendidos medicamentos desde há muito proibidos em países de primeiro mundo) habituou-se ao uso diário de medicamentos, que contribuem para a cronificação de muitas doenças. A simples diminuição do padrão de normalidade da pressão arterial, aumenta, significativamente, a quantidade de pessoas consideradas hipertensas, tendo, como conseqüência imediata, um assombroso (e lucrativo) aumento do consumo de anti-hipertensivos. Como o próprio nome define, hiper-tensa é a pessoa que está muito tensa, diante de situações de vida diária, sobre as quais ela não tem poder de mudança. Depressiva, é a pessoa que se sente impotente diante de situações que estão fora do seu controle. Portadoras de síndrome de pânico são as pessoas que não encontram segurança em recursos materiais, diante das assustadoras transformações sociais que ocorrem no mundo de hoje. Dificuldades de aprendizagem tem a criança que não teve estimulação lingüística nos primeiros meses de vida; que vive conflitos emocionais e sociais, em famílias desestruturadas; que não teve uma alimentação ou estimulação adequada, nos primeiros anos de vida...
            Desinformada sobre as verdadeiras origens das doenças; considerando-as como algo que ocorre de forma alheia à própria vontade; ignorando a relação mente-corpo-espírito, a população consome bilhões de reais em medicamentos, durante anos a fio, “controlando” doenças crônicas que são mantidas por estados emocionais, também cronificados. Padrões mentais cristalizados provocam sempre as mesmas alterações emocionais, que produzem sempre as mesmas alterações bioquímicas, que alimentam sempre os mesmos sintomas, numa interminável repetição de um estilo de vida, cada vez mais doentio.
            Será possível reduzirmos a dinâmica da vida a uma simples “pílula mágica”? Seria como desligamos o painel do carro, quando este acusa falta de óleo, e continuarmos a dirigir, como se tudo estivesse bem, danificando nossos veículos

Até quando vamos nos recusar a compreender que o sintoma é um pedido de socorro, de um organismo que está vivendo em condições inadequadas à manutenção da saúde?

                                                 SUELI MEIRELLES   Site: www.institutoviraser.com

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