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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O VÍCIO DO JOGO



            Há alguns anos, nas proximidades das folias de Momo, que sempre ajudam a minimizar os problemas nacionais, o brilho do Carnaval foi ofuscado pelo pipocar de mais um escândalo, trazendo nervosismo e preocupação ao mundo político e financeiro. Por detrás das denúncias, amplamente divulgadas através dos noticiários da época, sobre as falcatruas motivadas pelo vício da corrupção, outro vício, o vício do jogo, tão destrutivo quanto o primeiro, trouxe a público o drama de milhares de pessoas que, impedidas de jogar, em virtude do fechamento dos bingos, entraram em estado depressivo, com isto evidenciando, o quanto já estão dependentes. Pela relevancia da questão, retorno ao assunto.
            Assim como a dependência de álcool, por exemplo, freqüentemente mascarada como hábito social, o vício do jogo vai-se instalando sorrateiramente, até que a pessoa não consiga mais se livrar dele. Seja através de carteados, roletas, máquinas caça-níqueis, ou qualquer outro jogo de azar, grandes patrimônios já se perderam da noite para o dia, quando compulsivos chefes de família cederam ao domínio do vício. Mesmo depois de juras e promessas, diante do sofrimento dos familiares, quando se vêem à beira da ruína, o dependente, após intensa e exaustiva luta interior, torna-se invariavelmente o grande perdedor, sempre vencido pelo impulso de jogar mais uma vez.
            Como qualquer outro, o vício do jogo é um comportamento de compensação para conflitos emocionais não resolvidos. Em nível consciente, o viciado pensa apenas em divertir-se e esquecer os problemas, desviando o foco de atenção das preocupações de vida para o jogo e, automaticamente substituindo um foco “negativo” ( o problema em questão) por um “positivo” ( a expectativa de ganhar), às vezes até mesmo na intenção de resolver o primeiro, se este for um problema financeiro. Ao fazer isto, inadvertidamente o viciado está criando uma conexão neurológica em seu cérebro, entre o ato de jogar e a imagem de ganho ou solução que deseja alcançar, ativando a produção de substâncias químicas responsáveis pela sensação de prazer. Este alívio temporário para o estado de tensão em que vive, torna-se então o grande responsável pelo desenvolvimento do vício, uma vez que o cérebro humano é programado para afastar-se de tudo aquilo que traga sofrimento e aproximar-se de tudo aquilo que cause prazer.
            Poderíamos então perguntar por que o sofrimento da família não é suficiente para afastar o viciado do jogo. O que ocorre é que todo viciado sempre acredita que irá ganhar da próxima vez. Nenhum jogador compulsivo busca o jogo acreditando que irá perder. Sua mente fica obcecada por estratégias de jogadas, podendo chegar a criar até rituais e superstições, com a crença de que elas lhe trarão mais sorte no próximo jogo. Quanto mais enredado e endividado ele estiver, maior será a tensão emocional gerada, e maior a compulsão para jogar.
            Como o vício do jogo não traz os problemas imediatos de saúde física decorrentes de vícios tais como álcool e as drogas, o viciado em jogo tem muito mais dificuldade para livrar-se desta dependência puramente emocional, somente buscando ajuda, quando já se encontra totalmente arruinado.
            Como todo dependente, o viciado em jogo tem uma estrutura de personalidade imatura, despreparada para enfrentar os desafios da vida. Sua dinâmica de relação com o trabalho também pode ter sido distorcida, fazendo com que este lhe pareça um grande castigo ou sacrifício, ao invés de ser uma fonte de realização, que igualmente lhe traria uma sensação de prazer e bem estar, além do necessário recurso financeiro. Como isto não ocorre, a idéia de lucro fácil atende ao desejo de satisfação imediata do psiquismo imaturo, funcionando como uma isca para o incauto jogador, até que ele se veja colhido pela rede de credores ou banqueiros de jogo que, do outro lado da mesa, também são viciados no fabuloso lucro alcançado às custas da desgraça alheia.
            Para que alguém consiga libertar-se da doença, torna-se necessário um profundo trabalho de Reprogramação Mental, através do qual serão identificadas as distorções dos simbolismos registrados no inconsciente. Estes símbolos distorcidos, responsáveis pelos comandos do comportamento compulsivo, deverão ser substituídos por simbolismos construtivos, também disponíveis na mente do indivíduo, voltados para a sua realização pessoal e sustentabilidade. Neste processo, serão trabalhados todos os desvios do caminho original de auto-expressão, resgatando-se os potenciais positivos que efetivamente cada ser humano já possui dentro de si mesmo.

                                                SUELI MEIRELLES   Site: www.institutoviraser.com

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