Há alguns
anos, nas proximidades das folias de Momo, que sempre ajudam a minimizar os problemas
nacionais, o brilho do Carnaval foi ofuscado pelo pipocar de mais um escândalo,
trazendo nervosismo e preocupação ao mundo político e financeiro. Por detrás
das denúncias, amplamente divulgadas através dos noticiários da época, sobre as
falcatruas motivadas pelo vício da corrupção, outro vício, o vício do jogo, tão
destrutivo quanto o primeiro, trouxe a público o drama de milhares de pessoas
que, impedidas de jogar, em virtude do fechamento dos bingos, entraram em
estado depressivo, com isto evidenciando, o quanto já estão dependentes. Pela relevancia da questão, retorno ao assunto.
Assim como a dependência de álcool,
por exemplo, freqüentemente mascarada como hábito social, o vício do jogo vai-se
instalando sorrateiramente, até que a pessoa não consiga mais se livrar dele.
Seja através de carteados, roletas, máquinas caça-níqueis, ou qualquer outro
jogo de azar, grandes patrimônios já se perderam da noite para o dia, quando
compulsivos chefes de família cederam ao domínio do vício. Mesmo depois de
juras e promessas, diante do sofrimento dos familiares, quando se vêem à beira
da ruína, o dependente, após intensa e exaustiva luta interior, torna-se
invariavelmente o grande perdedor, sempre vencido pelo impulso de jogar mais
uma vez.
Como qualquer outro, o vício do jogo
é um comportamento de compensação para conflitos emocionais não resolvidos. Em
nível consciente, o viciado pensa apenas em divertir-se e esquecer os
problemas, desviando o foco de atenção das preocupações de vida para o jogo e,
automaticamente substituindo um foco “negativo” ( o problema em questão) por um
“positivo” ( a expectativa de ganhar), às vezes até mesmo na intenção de
resolver o primeiro, se este for um problema financeiro. Ao fazer isto,
inadvertidamente o viciado está criando uma conexão neurológica em seu cérebro,
entre o ato de jogar e a imagem de ganho ou solução que deseja alcançar,
ativando a produção de substâncias químicas responsáveis pela sensação de
prazer. Este alívio temporário para o estado de tensão em que vive, torna-se
então o grande responsável pelo desenvolvimento do vício, uma vez que o cérebro
humano é programado para afastar-se de tudo aquilo que traga sofrimento e
aproximar-se de tudo aquilo que cause prazer.
Poderíamos então perguntar por que o
sofrimento da família não é suficiente para afastar o viciado do jogo. O que
ocorre é que todo viciado sempre acredita que irá ganhar da próxima vez. Nenhum
jogador compulsivo busca o jogo acreditando que irá perder. Sua mente fica
obcecada por estratégias de jogadas, podendo chegar a criar até rituais e
superstições, com a crença de que elas lhe trarão mais sorte no próximo jogo.
Quanto mais enredado e endividado ele estiver, maior será a tensão emocional gerada,
e maior a compulsão para jogar.
Como o vício do jogo não traz os
problemas imediatos de saúde física decorrentes de vícios tais como álcool e as
drogas, o viciado em jogo tem muito mais dificuldade para livrar-se desta
dependência puramente emocional, somente buscando ajuda, quando já se encontra
totalmente arruinado.
Como todo dependente, o viciado em
jogo tem uma estrutura de personalidade imatura, despreparada para enfrentar os
desafios da vida. Sua dinâmica de relação com o trabalho também pode ter sido
distorcida, fazendo com que este lhe pareça um grande castigo ou sacrifício, ao
invés de ser uma fonte de realização, que igualmente lhe traria uma sensação de
prazer e bem estar, além do necessário recurso financeiro. Como isto não
ocorre, a idéia de lucro fácil atende ao desejo de satisfação imediata do
psiquismo imaturo, funcionando como uma isca para o incauto jogador, até que
ele se veja colhido pela rede de credores ou banqueiros de jogo que, do outro
lado da mesa, também são viciados no fabuloso lucro alcançado às custas da
desgraça alheia.
Para que alguém consiga libertar-se
da doença, torna-se necessário um profundo trabalho de Reprogramação Mental,
através do qual serão identificadas as distorções dos simbolismos registrados
no inconsciente. Estes símbolos distorcidos, responsáveis pelos comandos do
comportamento compulsivo, deverão ser substituídos por simbolismos
construtivos, também disponíveis na mente do indivíduo, voltados para a sua
realização pessoal e sustentabilidade. Neste processo, serão trabalhados todos
os desvios do caminho original de auto-expressão, resgatando-se os potenciais
positivos que efetivamente cada ser humano já possui dentro de si mesmo.
SUELI MEIRELLES Site: www.institutoviraser.com
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