Tradução

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DA REPRESSÃO À FIXAÇÃO SEXUAL


         A primeira metade do nosso século foi caracterizada pela repressão sexual oriunda da era vitoriana, a moral vigente na Inglaterra, no final do século passado. A educação feminina, principalmente, era baseada nos conceitos de “pureza” e “inocência: Quanto menos uma moça tivesse acesso a informações sobre sexualidade, mais ela seria considerada uma “moça de família”.
A educação masculina defendia uma dupla moral: Ainda na puberdade, o jovem era levado pelo pai ou por algum outro líder da família, para a iniciação sexual num prostíbulo. Ensinavam-lhe que “aquela mulher” poderia ser usada como objeto de prazer, mas não deveria ser respeitada como ser humano; em contrapartida, as moças de família deveriam ser escolhidas como futuras esposas e mães de família, sem que tivessem qualquer tipo de intimidade sexual com elas. Se uma moça iniciasse sua vida sexual antes do casamento, isto era considerado uma grande desonra, criticada pela comunidade local com termos pejorativos  como “perdeu-se”, “deu mal-passo” etc. Este padrão educacional conduzia os futuros maridos, infalivelmente, para o caminho da infidelidade conjugal. Em seus inconscientes registravam-se dois modelos de mulher: De um lado, Maria, símbolo da maternidade e da família e, de outro, Salomé, a mulher da rua, símbolo do prazer sensual. O modelo do pai ideal, por sua vez, era o modelo do provedor, que não deixava faltar nada em casa, não importando como fosse o seu comportamento sexual fora do âmbito familiar. A mãe ideal era a mulher dedicada ao lar e aos filhos, fiel, submissa ao marido e condescendente com os rumores que ouvisse sobre suas aventuras extraconjugais.
         Dentro desse contexto, a educação dos jovens seguia dois caminhos distintos. Defendia-se a Repressão sexual severa sobre as meninas e a condescendência para com os meninos, principalmente porque a iniciação sexual precoce dos filhos era percebida pelos pais como uma garantia contra a homossexualidade, traduzida na célebre frase: “Meu filho é homem!
         No decorrer do tempo a sociedade mudou muito. Duas guerras mundiais, num curto espaço de tempo, em termos de evolução, conduziram as mulheres ao mercado de trabalho, onde faltava a mão de obra masculina, desviada para os campos de batalha. O próprio índice de mortalidade masculina, na época, criou a necessidade de que se abrisse espaço para o trabalho feminino, em princípio com remuneração mais baixa que a do homem. No início, a resistência das famílias era grande. Permitir que as esposas ou filhas trabalhassem, era entendido, pelos chefes de família, como uma constatação de sua incapacidade para manter o sustento familiar. Havia também o receio de que as moças, tão ingênuas e despreparadas para o mundo, fossem objeto de sedução.

A partir dos anos sessenta, a sociedade passou por intensas transformações em todos os setores da vida humana e, principalmente, no campo do comportamento sexual. A descoberta da pílula anticoncepcional trouxe para a mulher uma forma de prevenção e controle daquilo que era a sua maior preocupação: a gravidez indesejada. E o que poderia ter sido um recurso para uma reflexão maior sobre a escolha consciente da maternidade, acabou se transformando num passaporte para o extremo de uma liberação sexual, que não trouxe, para os homens e as mulheres do tempo moderno, uma vida sexual mais satisfatória, nem os tornou seres humanos mais felizes. Se antes a sexualidade era reprimida, hoje a cobrança por uma vida sexual ativa é uma pressão constante sobre a juventude, cuja iniciação acontece cada vez mais precocemente. Apesar de toda a informação existente sobre os mais diversos métodos contraceptivos, a mídia bombardeia a população (quer sejam crianças, jovens ou adultos), com uma intensa propaganda de apelo sexual através de revistas, tele-sexo, filmes eróticos, novelas, medicamentos polêmicos etc., tendo como objetivo o lucro fácil da venda desses produtos. Como sempre acontece no processo evolutivo, passamos do comportamento reprimido para a fase de exibicionismo; passamos da repressão para a fixação sexual; falta-nos, agora, alcançarmos a terceira fase, a fase do amadurecimento; do ponto de equilíbrio da sexualidade saudável e orientada para o verdadeiro amor, em que a sexualidade terá o significado de troca de energia e prazer, entre pessoas que realmente desejam o bem recíproco, compartilhando projetos, ideais de vida, transformando-se companheiros evolutivos que compartilham as experiencias da vida em diferentes estados de consciencia.

Sueli Meirelles: suelimeirelles@gmail.com
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