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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A DIMENSÃO HOLÍSTICA DA GESTALT=TERAPIA - Psicologia



                   Walter Ferreira da Rosa Ribeiro, um dos precursores da Gestalt-Terapia no Brasil, em seu artigo publicado no livro “Visão Holística em Psicologia e Educação (pág. 61)”, desperta nossa atenção para o “esquecimento” da dimensão holística da Gestalt.
                   No seu entender, precisamos ter dois propósitos básicos em mente:
1) “Compreender a explosão prematura do fenômeno Gestalt-Terapia e as inevitáveis distorções ocorridas por isso:
                    2) “Procurar clareza crescente de nossa prática, através de maior       
                        compreensão de nossas origens filosóficas e científicas.”

         Tomando por base o seu alerta, iremos aqui desenvolver esses dois tópicos, buscando torná-los fundamentais pontos de reflexão de nossa prática terapêutica, uma vez que, inevitavelmente, todo “fazer” está baseado num “crer” ; numa filosofia; num conjunto de pressupostos que irão nortear nossas atuações profissionais.
         Considerando-se a própria história da Psicologia, constataremos que, no início do século, nos Estados Unidos, o Behaviorismo encontrou um campo fértil para o seu desenvolvimento dentro do positivismo pragmático característico daquele povo.
         Considerando-se ainda a coincidência do surgimento da Gestalt-Terapia com a segunda guerra mundial, obrigando Fritz e Laura Perls a refugiarem-se primeiramente na Holanda, depois na África do Sul, Estados Unidos (Laura) e Canadá (Perls). Considerando também que esse era um tempo de autoritarismo, onde a filosofia dominante era o positivismo pragmático, mais condizente com o Behaviorismo condicionador do que com os princípios de consciência e auto-responsabilidade defendidos pela Gestalt; observando-se ainda o movimento de contestação que surgiu na década de 60, quando a Gestalt-Terapia desabrochou na Califórnia, verificamos que essa abordagem, enquanto teoria e corpo de conhecimento científico, pode ser considerada um fruto colhido antes do tempo.
         Tais condições históricos conduzem uma teoria, invariavelmente, a distorções na compreensão dos seus aspectos fundamentais, tendo como conseqüência uma prática dissonante da filosofia original.
         Hoje, decorridos mais de 40 anos, temos um novo momento histórico. Com as descobertas da física moderna, abre-se campo para uma nova forma de perceber o mundo e a vida. É tempo de transformações, liberdade e auto-responsabilidade. Os velhos modelos sociais tornaram-se obsoletos. Urge que se construa um novo modelo, capaz de ordenar toda a fragmentação de uma sociedade em decadência. Hoje, busca-se a síntese, o holismo. E holismo quer dizer totalidade, assim como gestalt quer dizer totalidade, fechamento e, conseqüentemente, síntese, também.
         Em função do momento histórico atual, o alerta de Walter Ribeiro torna-se primordial para que possamos situar a Gestalt-Terapia dentro do novo paradigma holístico, ora emergente. É tempo de retornarmos às origens filosóficas da Gestalt. Hoje, mais do que nunca Perls é atual. É atualíssimo. Num tempo sem modelos, sem parâmetros, a consciência, agora desperta em outro nível; o Self-Support; a auto-responsabilidade; o aqui-e-agora, diante de um futuro pouco previsível, e tantos outros pressupostos gestaltistas podem servir de base para a redescoberta do potencial interno do ser humano, para a orientação  do caminho de cada um, a partir de si mesmo.
         A Gestalt, com sua fundamentação fenomenológica-existencial abre espaço para a busca da autenticidade do ser humano, em contrapartida ao ranço de positivista pragmático, que ainda hoje é alardeado como solução para todos os problemas humanos.
         Quando realmente falamos em totalidade, em Gestalt, em holismo, não basta a panacéia das mil frases positivas. Não será ignorando a polaridade negativa que iremos alcançar o equilíbrio. Se antes privilegiamos o hemisfério cerebral esquerdo, o racionalismo e o pensamento pragmático, hoje , ser holístico, não significa situarmo-nos no outro extremo do hemisfério cerebral direito, com seu potencial de intuição e criatividade. Holismo é, acima de tudo, o caminho do meio com suas oscilações naturais à direita e à esquerda, podendo, a nível neurofisiológico, ser representado pelo corpo caloso, a estrutura que interliga os dois hemisférios cerebrais, permitindo a intercomunicação entre as suas várias funções, tornando possível o retorno do homem à sua inteireza CORPO-MENTE-ESPÍRITO, permitindo ao SER o reencontro da sua plenitude e o fechamento da sua GESTALT.
Esta visão do Ser em sua totalidade CORPO-MENTE-ESPÍRITO é o enquadre profissional dentro do qual eu trabalho e dá origem a uma metodologia também holística, que integra os métodos de análise e síntese num estado dinâmico entre o todo e as partes que o constituem. Exponho, a seguir, um quadro comparativo entre o Método Analítico e o Método Sintético, conforme a abordagem feita por Roberto Crema, Antropólogo e Psicólogo Transpessoal, em “O Novo Paradigma Holístico.”




2.1 QUADRO COMPARATIVO ENTRE O MÉTODO ANALÍTICO E O MÉTODO SINTÉTICO


MÉTODO ANALÍTICO
MÉTODO SINTÉTICO
Reação ao dogmatismo e obscurantismo medieval
Reação ao racionalismo positivista e analisicismo moderno
Ênfase na parte
Ênfase do todo
A serviço da decomposição
A serviço da unificação
Fatos específicos, particulares
Realidade plena, total
Tendência reducionista
Tendência ampliativa, globalista
Via quantitativa
Via qualitativa
Caráter mecanicista
Caráter organicista
Fundamentos principais: razão e sensação
Fundamentos principais: emoção e intuição
Somático (5 sentidos clássicos)
Psíquico
Necessidade de Leis
Liberdade e responsabilidade
Determinista
Indeterminista
Exatidão, regularidade
Incerteza, flexibilidade
Codificação matemática
Codificação poética-metafórica
Reprodutividade
Unicidade
Previsibilidade
Imprevisibilidade (inclui o mistério)
Geral, regularidade
Singular, biográfico
Inclinação indutiva
Inclinação dedutiva
Progressividade, acumulação
Instantaneidade, descontinuidade
Relação causal
Relação acausal: sincronicidade
Ponto de vista da causalidade (porque)
Ponto de vista da finalidade (sentido, para que)
Espaço externo (exterioridade)
Espaço interno (interioridade)
Nível do objeto
Nível do sujeito
Realidade objetiva
Consciência, valores
Experimental
Experimental
Hemisfério cerebral esquerdo
Hemisfério cerebral direito
Exclusão do sujeito (dualidade)
Inclusão do sujeito (não dualidade)
Função explicativa
Função compreensiva
Aplicado às ciências da natureza
Aplicado às ciências do espírito
Alguns Menores: Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Freud, Berne
Alguns Mentores: Diltey, Smuts, Jung, Soler, Frankl, Krishnamurti,

         Pelo que aqui foi exposto, podemos observar que ter uma visão holística da Gestalt-Terapia significa simplesmente ter um novo enquadre terapêutico; um enquadre mais amplo para os mesmos procedimentos. Isto significa dizer que o que se modifica não é o conjunto de técnicas utilizadas mas, o modo como estas mesmas técnicas são utilizadas e a escuta terapêutica mais ampla, que se faz sobre o material emergente na situação terapêutica permitindo que muitos estados, antes considerados como surtos psicóticos, possam ser agora compreendidos como fenômenos de estados alterados de consciência possíveis ao homem, quando este se abre para outras dimensões de vida.


Sueli Meirelles: Professora, Pesquisadora e Especialista em Psicologia Clínca. (UGF/RJ- 1986) . Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral, Ecologia Integral e Educação para a Paz. Escritora e Palestrante. Site: http://www.suelimeirelles.com   Whatsapp: 55 22 999.557.166

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