Em
tempos de guerra informacional e mísseis de fake news, nunca ouvimos tantas
mentiras. Caminhamos entre elas, como se estivéssemos num campo minado, onde
cada passo precisa ser bem cauteloso, para não cairmos em armadilhas...
Mas, porque as pessoas mentem? As
características de personalidade de uma pessoa são desenvolvidas na primeira
infância, com base na interação entre o seu potencial inato e os estímulos
oferecidos pelo meio ambiente. Estes fatores externos, incluem principalmente
os modelos parentais, que influenciam sobremaneira o desenvolvimento de uma
criança: Um pai alcoólatra, com valores morais inconsistentes, infiel e muitas
vezes também mentiroso, pelos mesmos motivos ancestrais, pode ser um poderoso
modelo para o desenvolvimento do hábito de mentir. Outro fator também
importante é o medo do castigo: Crianças que, por descuido ou falta de
coordenação motora ao lidar com objetos frágeis, estraguem alguma coisa ou
causem um prejuízo, podem desenvolver a tendência de esconder seus erros, pelos
quais sabem que serão punidas, quase sempre fisicamente, pelo fato dos adultos
descarregarem a frustração pelo estrago, sobre a criança, sem compreenderem que
a surra não educa; machuca. Este convívio diário, aliado a ausência de elogios
em relação às qualidades efetivas da criança e ao que ela faz de positivo,
afetam a autoconfiança e criam a expectativa cada vez maior de aprovação e
reconhecimento externo. Deste modo, está configurado o perfil patológico do
mentiroso. Embora os benefícios da mentira não sejam explícitos, o mentiroso
crônico utiliza estratégias manipulativas para tirar o foco de atenção de seus
malfeitos, apresentando-se como herói ou vítima e ampliando a importância de
suas realizações; colocando-as como feitos extraordinários, numa postura também
megalomaníaca de conseguir aplausos a qualquer custo, como forma de compensar
sua baixa estima, conseguindo até dar uma forma plausível às suas mentiras.
Mentem com freqüência e não têm escrúpulos morais, agindo como bons atores e
sentindo-se confiantes no uso de suas mentiras cada vez mais bem elaboradas, nos
resultados que por elas podem ser alcançados e dificilmente sentindo culpa pelo
erro, já que se orgulham por ter alcançado o objetivo de enganar.
Quando
olhamos para a pessoa mentirosa com olhar clínico e com os recursos técnicos da
psiconeurolinguística, conseguimos identificar alguns indicativos da mentira,
através dos 93% da comunicação não verbal, que se sobrepõem à linguagem
(postura do corpo, tom de voz, ritmo respiratório e da fala, desvio lateral do
olhar baixo, movimentação rápida de mãos e pés, como manifestações do
inconsciente que é sempre verdadeiro e comanda o comportamento expresso.
Alguns ditados
populares nos alertam para o fato de que “A mentira voa e a verdade engatinha”,
mas estes mesmos ditados também dizem que “A mentira tem pernas curtas[1]”.
Que possamos
estar alertas diante dos aspectos básicos da estrutura de personalidade do
mentiroso e das origens comportamentais de sua história de infância, para
cortarmos as asas da mentira e darmos apoio a verdade, até que ela possa
aprender a caminhar, crescer e tornar-se um hábito civilizatório, resgatando a
confiabilidade da palavra humana.
Sueli Meirelles, em Nova Friburgo, 29 de
Outubro de 2022.
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