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sábado, 12 de maio de 2012

FILHOS DO CORAÇÃO - Comportamento


Chamou-nos a atenção, no noticiário, há alguns anos atrás, o olhar perdido de um jovem chamado Osvaldo (ou seria Pedrinho?), ao descobrir, vinte dias após a morte do pai adotivo, que sua família biológica vivia em Brasília, e o procurava já há 17 anos, após o seqüestro de que fora vítima, ainda com 14 horas de vida.
 Viver simultaneamente, a perda do pai, o encontro com uma nova família e descobrir todas as circunstâncias que cercaram o seu nascimento pode ser demais para um jovem adolescente, que está trocando a segurança da infância pelos desafios e incertezas da juventude.
 Se desde a primeira infância ele tivesse sido informado de sua condição de adotivo, cresceria amando os pais da mesma forma e, ao mesmo tempo, o que é bastante natural nestes casos, desenvolveria uma curiosidade em relação aos pais biológicos que o deixaria mais preparado para o impacto emocional do encontro com a sua família de origem.
 Assim como aconteceu com Osvaldo (que assim prefere ser chamado), muitas crianças que poderiam ser amadas e respeitadas em sua condição de adotivas, sofrem a tortura da dúvida em relação às suas origens (o inconsciente sempre sabe a verdade). Sua autoconfiança acaba sendo minada pelo despreparo de pais adotivos, que teimam em sustentar uma fantasia, que  se transforma num grande pesadelo para o jovem que se sente enganado, ao descobrir a verdadeira história de seu nascimento.
 Cabe lembrarmos que, quando uma mulher engravida, por mais que a maternidade seja socialmente valorizada, nem sempre ela deseja realmente o filho que carrega no ventre. Isto se evidencia pela imensa quantidade de crianças que diariamente são abandonadas e entregues à própria sorte, por  quem deveriam servir-lhes de apoio e orientação na travessia da vida.
 Aqueles que se dispõe a adotar uma criança, no entanto, evidenciam disponibilidade e capacidade de doação porque, ao tomar esta atitude, fazem-no efetivamente por escolha, já que nada os obriga a isto. Este ato de amor, por sua essência, deveria ser motivo de realização para os novos pais, formando a base para um relacionamento verdadeiro, no qual a função paterna e materna, diferentemente da função biológica de gerar um filho, se expressa através de dedicação e cuidados efetivos.
 Para os pais, os filhos significam o seu “produto” e, muitas vezes, movidos por sentimentos de impotência e baixa-estima, diante da infertilidade, os pais adotivos decidem não revelar ao filho esta sua condição, enganando a si mesmos e àquele que teria todas as condições de amá-los e respeitá-los por sua imensa capacidade de doação. Ao agirem assim, transformam a possibilidade de uma relação verdadeira, numa relação enganosa, que deixa fortes seqüelas emocionais, quando, mais tarde, o jovem descobre suas reais condições de nascimento. O ideal seria que, a partir do terceiro ano de vida, quando a criança já possui um vocabulário expressivo e começa a se interessar por saber como os bebês vêem ao mundo, que ela começasse a ser informada sobre a verdade; Que ela nasceu da “barriguinha” de outra mãe, que não pode criá-la e que agora, ela “é filha do coração” porque foi muito desejada e é amada por seus pais adotivos, como se deles tivesse nascido.

Sueli Meirelles - Especialista em Psicologia Clínica (Hipnose Ericksoniana, Regressão de Memória, Reprogramação Mental). Escritora e Palestrante
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