Ao
nascer, toda criança traz, dentro de si, uma sabedoria; um conjunto de
potenciais inatos que, em interação com os estímulos do meio ambiente, poderão
ser estimulados e desenvolvidos. Traz, também, aspectos negativos, que
precisarão ser transformados em suas polaridades positivas. Surge aí, a tarefa
educativa. Neste sentido, pais e professores precisam estar atentos a esses
potenciais, para que eles possam ser reconhecidos, (estimulados quando
positivos, ou transformados, quando negativos) tão logo comecem a se expressar.
A energia psíquica deste potencial, no entanto, possui um movimento de baixo
para cima, e de dentro para fora, necessitando ser cultivado, como uma semente,
cujo potencial irá transformar-se num arbusto, e depois, numa bela árvore. É
justamente neste sentido que o processo educacional vem se revelando muito mais
como um bloqueador dos potenciais inatos, do que como a terra fértil onde a
semente da vocação poderá se desenvolver na boa árvore, cujos frutos serão a
expressão de si mesma.
A palavra aluno, originada do termo latino Alumem (a = prefixo de negação, lumem = luz)
tem o sentido de ausência de luz: O aluno é visto como aquele que não traz
nenhum conhecimento. Como sinaliza o grande educador Paulo Freire, como alguém
que está sempre com fome de conhecimento, de boca aberta, à espera do alimento
educativo; de uma espécie de dieta pré-determinada pelos doutores da educação,
que em seus gabinetes, de cima para baixo, e de fora para dentro, estabelecem,
segundo seus próprios referenciais de mundo, aquilo que o aluno deverá
aprender. Esta distorção transforma o espaço educacional num templo de tortura
psicológica, onde os alunos, prisioneiros do sistema, são obrigados a
aprenderem aquilo que está estabelecido nos planos curriculares e não, aquilo
que suas motivações buscam, fazendo com que eles se tornem dispersivos,
indisciplinados e revoltados, enquanto todas as suas indagações em relação ao
mundo de hoje, permanecem sem respostas.
Em suas mentes inconscientes,
a Sabedoria Interior, com a qual já nasceram, e que tem a função de direcionar
seus caminhos existenciais, acaba tendo que resistir aos empecilhos dos
programas educacionais, que tentam, a todo custo, colocá-los dentro de uma
espécie de molde: O modelo do aluno (aquele que não tem luz própria) obediente
e sempre pronto a aprender tudo aquilo que lhe querem impingir, sem jamais lhes
perguntarem o que deseja aprender.
Na vida corrida de
hoje, os jovens deixam de aprender importantes dados básicos para suas vidas:
Noções de higiene, regras de boa educação à mesa, como utilizar um garfo ou
faca (alguns nunca o fizeram), educação sexual preventiva, economia doméstica, valores
etc. Deixam também de ter um espaço onde possam questionar as prementes questões
do mundo moderno, onde sufocados, sempre que possível, liberam o pedido de
socorro da revolta, através da qual expressam o desespero de seu despreparo,
diante dos estímulos de violência e apelo sexual com que são bombardeados,
diariamente.
Os visão educacionais
do século passado, não mais da conta da realidade do mundo de hoje. Estamos num
momento em que não existem receitas prontas. Estamos no difícil momento em que
os referenciais externos sucumbiram ao desmoronamento de nossa civilização
insustentável. Estamos numa era experimental da vida, no planeta, quando os
velhos modelos precisarão ser substituídos por novas idéias; por novos ideais,
construídos a partir da experiência vivida no dia-a-dia de cada um. O que,
exatamente, nossas crianças precisam aprender, para que possam lidar com a
realidade do mundo de hoje? Talvez esta seja a grande pergunta, para todos nós,
educadores, pais e professores. Conscientes, então, de todo o nosso
desconhecimento; conscientes então, do desconhecimento de nós mesmos; nós que,
mais do que eles, somos frutos de uma educação ultrapassada, onde ao aluno
cabia apenas obedecer; sem falar ou questionar. Conscientes, assim, de tudo
aquilo que não sabemos sobre eles, sobre suas questões, inseguranças e dúvidas,
diante de um mundo tão conturbado, talvez possamos curar nossa surdez e nossa
cegueira educacional, admitindo que, muitas vezes os alunos somos nós, para que
possamos, todos, nos reunirmos neste grande mutirão da escola da vida e, juntos
reconstruir, ou mais corretamente, construir, uma nova civilização. Precisamos
desenvolver um novo modelo educacional que possa se iniciar na observação da
pequena luz que cada criança já traz dentro de si mesma, alimentando-a com amor
e atenção, em cada momento em que um de seus raios se expande, e começa a brilhar.
Precisamos que as famílias e as escolas se transformem em espaços do despertar
da Sabedoria Interior de cada “Lumem” que nasce na Terra, neste momento de
transição planetária.
SUELI MEIRELLES
(*)
Site: www.institutoviraser.com