No dia-a-dia das relações humanas,
observamos que o convívio entre as pessoas, está cada vez mais estressante.
Quer seja no ambiente familiar, profissional ou social, aumentam, cada vez
mais, os entraves a serem superados a cada momento. Afinal, o que está
acontecendo? Qual a fonte e origem de todos esses desentendimentos, que sugam
nossas energias, que poderiam estar sendo utilizadas de forma mais produtiva?
O primeiro passo para a compreensão
da origem dos conflitos foi dado por Sigmund Freud, quando, em sua teoria da
personalidade, postulou a existência de uma parte psíquica, a qual denominou
Ego. Lingüisticamente, o ego é assim definido: “Nome
dado em Psicanálise à parte psíquica intermediária entre o id e o superego, ou
seja o mundo dos instintos e o mundo exterior.” Na mesma página
374, do Dicionário da Língua Portuguesa, editado pela Câmara Brasileira do
Livro, em 1971), encontramos, ainda os termos derivados deste constructo: “Egocêntrico - que tem por centro o próprio
eu; Egocentrismo – Atitude daquele que tudo refere ao próprio eu; Egoísmo –
amor exagerado ao bem próprio, com desprezo ao dos outros. Egoísta – Diz-se da
pessoa que só trata de seus interesses. Ególatra – Pessoa que tem o culto de si
mesmo. Egotismo – Sentimento exagerado da própria personalidade.
A partir destas definições, podemos, aqui, tecer algumas considerações
sobre o Ego Humano: Em sua função psicológica mais específica, o ego é a
instância psíquica que corresponde ao adulto, dentro de cada um de nós. Cabe a
ele realizar a intermediação entre os nossos desejos (positivos ou negativos) e
as regras e valores sociais (éticos), que nos foram transmitidos pela educação
familiar e pela cultura da sociedade em que vivemos. A primeira questão é que,
mesmo as pessoas cronologicamente adultas podem não ter um ego amadurecido o
suficiente para sobrepor-se aos desejos, muitas vezes deixando-se dominar por
eles. Este é, por exemplo, o caso da exacerbação do desejo material, quando,
para justificar a ganância desmedida, o indivíduo se utiliza, principalmente do
mecanismo defensivo de racionalização, para justificar suas ações prejudiciais
ao patrimônio alheio. O mesmo pode ocorrer em relação aos desejos sexuais, e
aos desejos de poder que, juntamente com o desejo material constituem os três
principais pontos de conflitos interpessoais, situados no nível da
personalidade, a máscara social utilizada nas relações com o mundo externo.
Em
relação ao domínio dos desejos sexuais temos, como exemplo, a séria crise de
paternidade estabelecida na sociedade de hoje, na qual a liberdade exacerbada
abre espaço para que as relações sexuais ocorram, antes mesmo que o casal tenha
identificado as afinidades e os objetivos de vida em comum, necessários para um
relacionamento duradouro, gerando disputas jurídicas posteriores, pela posse das crianças, atualmente tão
comuns.
Em relação ao desejo de poder,
encontramos os infindáveis casos de exacerbação do ego, principalmente nas
áreas de atuação profissional e política, onde surgem as disputas por cargos,
placas de inauguração, prestígio e influências sociais... E todas as demais
ilusões que podem afetar o nosso ego, neste mundo material (e materialista) no
qual vivemos. É nesse ponto que surge a nossa tarefa pessoal e intransferível:
Evoluir dos desejos insaciáveis do Ego, para a missão existencial do Self,
nosso Eu Superior, onde encontramos, efetivamente, as nossas melhores
qualidades; quando conseguimos nos colocar na difícil condição do “nu
psicológico”, no qual a nossa sombra e a nossa Luz Interior são trazidas ao
consciente, para que a primeira seja transcendida e a segunda, integrada. Neste
oitavo estado de consciência (considerado um estado superior, somente possível
de ser alcançado através da vivência da religiosidade; do nosso encontro
com Deus), apoiados sobre o melhor de nós mesmos, conseguimos ter a coragem de
olhar para o pior em nós, para descobrirmos que somos todos, sem exceções,
alunos da escola da vida, onde cada experiência que atravessa os nossos caminhos
existenciais é uma oportunidade de transformação interior.
Neste momento em que as relações
humanas estão tão difíceis, encontrar um momento de contato com o Eu Superior,
pode nos ajudar, e muito, a atravessarmos, principalmente, os aspectos inferiores
de nossas personalidades, que nos impedem de tomarmos a direção do que as
Tradições Religiosas denominam de Retorno à Casa do Pai.
Dentro de uma leitura metafórica (a
linguagem do inconsciente) esta Casa, onde podemos encontrar a paz interior,
tão escassa no mundo atual; este lugar ideal, que procuramos em tantos lugares;
este estado de serenidade e aceitação de tudo aquilo que volta a cada um de
nós, porque, em algum momento do tempo foi o que lançamos ao mundo; este Templo
Pessoal a ser levantado a cada dia, a cada passo, em cada encontro e
desencontro, é a construção do Ser Humano que viemos ser, conseguida pela
subordinação dos nossos aspectos inferiores de personalidade (movidos pelos
desejos), ao domínio da nossa individualidade, onde o verdadeiro Ser, espera,
no silêncio, para ser por nós revelado...
Sueli Meirelles: Psicóloga Clínica do CIT – Colégio
Internacional de Terapeutas
Pesquisadora de Fenômenos Psicoespirituais
Site: www.suelimeirelles.com
suelimeirelles@gmail.com