Tradução

segunda-feira, 23 de abril de 2018

QUEM E MAIS VERDADEIRO?


            Platão, um dos pilares da filosofia grega, já se referia à existência de um mundo das idéias, um plano virtual de pensamento, complementar ao mundo concreto em que vivemos. Segundo ele, o que chamamos de realidade são as sombras produzidas pela luz que vem do exterior, do plano extra-físico, onde está a verdadeira realidade, e que se projetam na parede, no fundo de uma caverna, nossa realidade do mundo material, fazendo com que tenhamos uma percepção fantasiosa da realidade. Através deste texto milenar, o Mito da Caverna, Platão nos alerta para a ilusão do mundo material, para a transitoriedade da vida, da qual precisamos recolher as melhores experiências evolutivas, e retornar ao mundo da Luz Maior. Este pensamento, originado há 7.000 mil anos atrás, encontra respaldo nos modernos estudos da física quântica, segundo os quais, para todo fenômeno do mundo material, existe uma contrapartida de anti-matéria. Quanto mais a ciência se aprofunda nos estudos da energia, mais se evidencia a existência de um plano informacional orientado por um princípio inteligente, que rege a vida como um todo.
Quando utilizamos estes referenciais filosóficos e científicos para compreender o funcionamento da consciência humana, verificamos que o nosso consciente, voltado para a percepção do mundo externo, possui mecanismos defensivos, a serviço de nosso ego, sempre pronto a distorcer a percepção de realidades que nos são pouco agradáveis. Esta é uma maneira de nos protegermos do sofrimento psíquico, diante de verdades para nós inaceitáveis. Para fugir delas, distorcemos, generalizamos ou eliminamos partes de nossas percepções, as quais reorganizamos de outro modo, através de racionalizações, deslocamentos e tantos outros artifícios psíquicos, que protegem nossos egos de entrar em contato com a predestinação evolutiva que rege nossa experiência terrena. Nossos egos vêem a transformação como sinônimo de morte e lutam tenazmente contra qualquer possibilidade de mudança. Em contrapartida, nossos inconscientes possuem uma sabedoria interior que se expressa através de uma linguagem simbólica que, quando bem compreendida em seus significados mais profundos, revela caminhos orientadores da vida. Embora esta linguagem seja metafórica e dependa de interpretação, ela é sempre mais verdadeira do que a linguagem do consciente, pois está diretamente conectada aos pensamentos e sentimentos que lhes dão origem. Algumas vezes, através de atos falhos, este lado mais verdadeiro emerge á consciência e se expressa através de comportamentos considerados pelo consciente como socialmente não aceitos e por isso mesmo reprimidos. Ainda que muitas vezes estes pensamentos inconscientes nos causem constrangimentos sociais, eles expressam aquilo que realmente somos, independente de qualquer tipo de julgamento, pois somos todos seres humanos imperfeitos, tendo como tarefa existencial, nossa transformação interior, para que nos tornemos seres humanos melhores. Podemos chamar de evolução a este processo de ampliação da consciência para potenciais mais autênticos e verdadeiros de nós mesmos, cuja meta é a transformação de nossos aspectos de personalidade negativos em aspectos positivos, e a total expressão das qualidades que já constituem nossa própria essência. Neste sentido, evoluir é se tornar cada vez mais verdadeiro e autêntico.
Embora conscientemente não queiramos dar atenção às nossas imperfeições humanas, empurrando-as novamente para o inconsciente mais profundo, a emergência destes aspectos à consciência é o fator primordial e o motivo de nossa existência no mundo. Somente através da autoconsciência daquilo que realmente somos poderemos perceber todo o potencial de realização que se encontra polarizado para o lado negativo e, conscientemente, trabalhar nossas personalidades para que estas forças inconscientes possam ser utilizadas de maneira construtiva. Quando, por exemplo, tomamos consciência de nossa raiva contida e a redirecionamos para sua contrapartida positiva, transformando-a na garra necessária para que possamos ultrapassar os obstáculos que surgem na vida, recuperamos força de realização. Aliás, o termo obstáculo é sinônimo do termo latino diábolos, ou seja: Somente reconhecendo e transformando nossos demônios internos, conseguiremos alcançar a plenitude de expressão de nós mesmos, tornando-nos seres humanos autênticos, já que evolutivamente, nenhum ser humano é maior ou menor do que realmente é.

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Sueli Meirelles: Especialista em Psicologia Clínica, Professora e Pesquisadora. Escritora e Palestrante. Consultora em Desenvolvimento Humano.


segunda-feira, 16 de abril de 2018

RELACIONAMENTOS DESCARTÁVEIS - Comportamento



            Em meio a tantas transformações sociais, focalizamos nossa atenção no verbo “ficar”, o qual, segundo Mestre Aurélio, tem o sentido de demorar, perdurar, permanecer e, em franca contradição, hoje, é utilizado pelos nossos jovens para significar os efêmeros relacionamentos, que duram o tempo exato da novidade e da atração sexual.
            O que aconteceu com o relacionamento afetivo dos seres humanos? Em que momento o mapa de aproximação, a dança do acasalamento, presente em todas as espécies animais, foi esquecido pelo autodenominado homo-sapiens? Em que momento o instinto selvagem se sobrepôs à sensibilidade despertada pela razão de seres pensantes? Onde foi parar (ficar?) o coração dos jovens que têm medo de amar; medo da entrega e do comprometimento, bases estáveis para o desenvolvimento da intimidade e da qualidade, em qualquer relacionamento que pretenda ser duradouro?
            Por ser manterem integradas às regras da Mãe Natureza, outras espécies animais obedecem aos rituais instintivos de acasalamento, cumprindo etapas essenciais à procriação e sobrevivência de sua espécie. Um gato, na expressão mais ampla do sentido que esta palavra tem hoje, no vocabulário popular, procura impressionar e seduzir a fêmea, com seus elegantes movimentos. Na espécie humana, este mapa de aproximação deveria reproduzir as fases do desenvolvimento psico-sexual, criando espaço para o desenvolvimento da sensibilidade necessária, para a identificação de afinidades: 1º) Fase Ocular: Primeiro momento de idealismo, que busca encontrar suas próprias respostas, nos mistérios ocultos nos olhos do outro; 2º Fase Oral: O compartilhar do sopro da vida, na expectativa de encontrar o alimento afetivo. 3º Fase Anal: A primeira expressão da busca da permanência do contato com o outro, através do toque. 4º) Fase Genital: A quarta e última etapa do encontro, da entrega capaz de permitir a procriação da espécie, depois de realizada a escolha mais adequada, para garantir a estabilidade do relacionamento afetivo. Mas, não é isto o que acontece nos dias de hoje. Motivados pela sociedade de consumo de bens materiais ou emocionais, os jovens saem às ruas em busca de quantidade e, não, de qualidade. Querem contabilizar quantas vezes “pegam” ou “ficam” com alguém, traduzindo, em números elevados, a miséria afetiva de seus corações. Têm medo de amar, de sofrer, de se decepcionar ao descobrirem que o outro não lhes traz a garantia da tão desejada felicidade. Por isso, se usam, mantendo a relação em seus níveis mais superficiais, visando apenas o esvaziamento imediato da tensão libidinal; tendo como objetivo, apenas o prazer físico. Tudo isso tem como conseqüências o risco da gravidez indesejada, da transmissão de doenças sexuais, do vazio existencial do dia seguinte, quando se verifica que pouco ou nada restou do relacionamento vivido na noite anterior. Quem era esse ser humano com quem se trocou fluídos orgânicos? Quais seriam seus desejos mais ocultos? Seus sonhos? Seus ideais? Seus objetivos de vida?... Ilustre desconhecido com quem se compartilhou os mistérios do corpo, mas de quem não se conheceu os mistérios da alma...
            Por tudo isto, indagamos: Qual foi o momento, na história recente da humanidade, em que o dança do acasalamento, com todos os seus passos, foi deixada para traz? Em que momento os seres humanos perderam a sensibilidade do encontro amoroso? Onde foi parar a delicadeza de conquistar o ser pensante, o ser amante, promessa de encontro saboreado com antecedência pela mais viva imaginação? Não há mais tempo para o sonho e para a poesia, quando os desejos imediatos são logo saciados, partindo-se, em seguida, em busca de alimento para o coração que permanece faminto do verdadeiro amor. Será por esse motivo, que nossos jovens chamam as relações descartáveis de “ficar”? Será que, através deste verbo com tantos significados de durabilidade, eles enviam mensagens de alerta sobre a morte do amor em nossa civilização?
            Nos anos trinta, Vinícius de Morais, um dos nossos mais ilustres poetas, em seu “Soneto de Fidelidade”, nos ensinava:

“(...)Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”

            Como sabiamente nos mostra o poeta, não esperamos que os relacionamentos de seres em permanente processo de transformação e crescimento interior possam ser eternos, mas que, eterna seja a sensibilidade de nos lembrarmos de que o amor é um sentimento que flui de quem ama para quem é amado, num exercício de doação de si mesmo, que alimenta o crescimento do outro, ao invés de consumi-lo em relacionamentos antropofágicos.

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Sueli Meirelles


quarta-feira, 11 de abril de 2018

APELO AOS CONSTRUTORES DE PAZ (Peacemakers)


    

            Peacemakers são construtores de Paz; são todas as pessoas realmente corajosas (que agem com o coração (mesmo radical lingüístico de cárdio, córdio, cordato...), colocando amor incondicional, em suas ações. São pessoas mediadoras dos conflitos[1] entre os opostos, tornando-os complementares.
                Esta proposta de Cultura de Paz foi implementada no Brasil pelo Psicólogo Francês Pierre Weil[2], Doutor em Psicologia pela Universidade de Paris, cuja história de vida o preparou para ser o “Samurai da Paz”, como é hoje carinhosamente chamado por todos nós que fomos seus aprendizes.
                Como é do conhecimento de todos os membros da Rede Internacional da Unipaz, Pierre Weil[3] era filho de mãe alsaciana e pai judeu e na Segunda Grande Guerra, aos 17 anos, alistou-se na Cruz Vermelha, auxiliando nos cuidados aos feridos pela insana disputa pelo poder, vendo tombarem seus conterrâneos franceses (pelo lado paterno) e alemães (pelo lado materno). Ali, naquela linha de trem, por onde iria passar o comboio alemão que invadia a França e que seria explodido pelas bombas dos franceses, ele prometeu a si mesmo dedicar sua vida à construção da Paz, no Planeta.  
                Em 1987, criou, juntamente com Monique Thoenig e Jean_Yves Leloup, também franceses, a Universidade da Paz[4], com sede na Granja do Ipê, em Brasília, atualmente, uma Rede Internacional de Educação e Promoção da Paz.
                 No ano de 2000, o Dr. Pierre Weil foi agraciado com a menção honrosa do Prêmio de Educação para a Paz e veio a falecer em 10/10/08, deixando a cada um de nós que cursamos a UNIPAZ e a todos os que tiveram acesso aos seus ensinamentos, através da leitura de seus muitos livros, palestras e seminários, um legado para ser honrado e multiplicado.
                Como Peacemakers, a partir da FHB-Formação Holística de Base, cursada na UNIPAZ – Universidade Internacional da Paz, adotemos este caminho como foco orientador de vida, tendo como conseqüência uma postura transpartidária, transreligiosa e transdisciplinar. Isto nos permite buscarmos a mediação de conflitos entre os opostos[5], identificando o melhor de cada lado e permitindo a emergência do “Terceiro Incluso”, segundo a Física Quântica, identificado como a resultante do inconsciente coletivo de uma família, grupo ou nação. É nossa tarefa transformarmos essa resultante, positivamente, para a construção do Brasil que todos nós desejamos: BRASIL CORAÇÃO DO MUNDO E PÁTRIA DO EVANGELHO! VIVA A UNIPAZ!

                                                 Sueli Meirelles, Peacemaker, Mãe e Avó, Brasileira.
                                             em Nova Friburgo, 11 de Abril de 2018. 
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segunda-feira, 2 de abril de 2018

MEDO - Psicologia


  

            Talvez nenhum outro sentimento seja tão presente no inconsciente humano quanto o medo: Medo do escuro, medo de parto, medo da morte, medo do desconhecido, medo da violência, medo de se expor... Medo de ser o que realmente é. Medo de ter medo! Até chegar ao extremo das fobias e síndromes de pânico. O medo está no ar... De onde vem tanto medo?
            Vivemos numa cultura onde o medo é um dos instrumentos de manutenção do poder. Historicamente, as execuções em praça pública, tinham a função de mostrar àqueles que alimentavam revoltas surdas, o que lhes poderia acontecer, caso se insurgissem abertamente contra o poder. Poder e lucro são dois grandes aliados do medo, no controle das massas. Desde a mais tenra infância, e até mesmo antes do nascimento, o medo pode estar presente no inconsciente humano. Em alguns casos, a etiologia das epilepsias tem como fator gerador, as surras que o pai alcoólatra infringia à mãe grávida. O próprio medo do parto pode ficar instalado no inconsciente profundo do bebê, uma vez que ele compartilha e absorve todos os sentimentos vivenciados pela mãe. Nos primeiros meses de vida, ao ser atendido durante a noite, o bebê associa a presença de alguém ao acender da luz, desenvolvendo medo do escuro. Algumas vezes este medo é condicionado pelos adultos que o utilizam como recurso para que a criança os obedeça: Tem bicho no escuro!... Outras vezes, as histórias sobrenaturais, contadas pelos adultos, impressionam a mente infantil; ou ainda pode ocorrer que a sua própria percepção extra-sensorial, leve a criança a temer o escuro, já que não encontra explicação para as coisas que vê.
            Medo de contrair doenças e medo de tomar injeção são medos culturais, inculcados desde a infância. A ameaça de aplicar injeção costuma ser instrumento de coerção em muitas famílias. O medo de doenças é construído pela dissociação entre os sentimentos bloqueados e os sintomas que eles alimentam. A idéia de que a doença é um fator externo que atinge o organismo, é largamente cultivada pelos meios de comunicação e pelos formadores de opinião, favorecendo laboratórios e planos de saúde (ou de doença?) milionários. É o medo a serviço do lucro!
            O medo do insucesso também cerceia o desenvolvimento profissional. Ao invés de pensar na escolha profissional como uma expressão de si mesmo, o jovem é direcionado pelas influências do mercado de trabalho que apontam, através de pesquisas, as áreas de melhor resultado, como se isto fosse garantia para ele ser bem sucedido. Mais uma vez, inverte-se o processo de livre auto-expressão, para o processo de pressão social, levando milhares de pessoas a seguirem carreiras que as frustram a cada dia, pelo medo de se lançarem ao desconhecido, em busca da realização pessoal. O próprio desconhecido, o novo, pode ser fator gerador de medo, quando a falta de fé e de autoconfiança enfraquecem o impulso necessário para vencer os obstáculos e alcançar as metas pessoais.
            O medo da velhice sustenta spas, aplicações de botox e cirurgias plásticas. O medo da impotência vende viagra. O medo do sofrimento leva à busca pela pílula mágica da felicidade. O medo da frustração leva ás drogas, e as drogas levam a violência que explode através das portas abertas dos porões do inconsciente coletivo da humanidade, no qual todas as paixões humanas num extremo de desamor ao outro, conduzem a todo tipo de desvios de comportamento. Desde as surras, desde as pequenas ou grandes torturas de pais contra filhos, de filhos contra pais, de homem para homem, quer seja dentro da família, na sociedade ou no planeta como um todo, atestam a ignorância e a barbárie em que, evolutivamente, a humanidade ainda se encontra. Desnorteado, o ser humano vagueia em busca de si mesmo, como se tivesse perdido o seu próprio espírito em algum ponto da jornada e, por isto mesmo, perdendo o roteiro do caminho, não sabendo mais onde quer chegar. O medo encolhe, tolhe, limita a todos aqueles que não conseguem buscar dentro de si mesmos, através do autoconhecimento, os recursos necessários para se livrarem dos grilhões culturais que acorrentam a humanidade, há milênios, consumindo quantidades incríveis de forças psíquicas que poderiam ser utilizadas de modo construtivo, a serviço da vida.
            É preciso que se reverta este quadro, através do processo educacional preventivo, ou do processo terapêutico curativo, facilitadores do retorno ao eixo de si mesmo. Desde a infância, as crianças precisam conhecer o poder construtivo do elogio sincero, que fortalece a autoconfiança e o poder que vem do verdadeiro amor. Isto dá sentido à existência e é o ponto fundamental de apoio para a travessia dos perigos reais ou imaginários que, a todo momento, bloqueiam o fluxo vital.

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