...Naqueles dias não
havia rei em Israel:
Cada qual fazia o que
parecia direito aos seus olhos.
(Juízes, 17)
Esta passagem do Texto Sagrado do Cristianismo se refere
a um tempo em que o povo hebreu, recém-saído de um período de dois mil anos de
cativeiro no Egito, era um povo nômade, em meio ao deserto.
Como nesses difíceis tempos bíblicos, vivemos, hoje, um
processo semelhante. Sob os efeitos da globalização econômica, somos convocados
à convivência diária com uma multiplicidade de costumes e crenças, desde os
instituídos pelos imigrantes e escravos que aqui aportaram, para formar o
caldeirão cultural que hoje é o Brasil, até os novos cultos que vêm surgindo a
cada dia. Esta liberdade cultural, ao mesmo tempo em que é um avanço
civilizatório, que permite que caminhemos em direção à autenticidade e à
unidiversidade, traz-nos, também, dificuldades de convivência com o diferente,
sempre que consideramos que a nossas crenças são melhores e mais corretas do
que as dos outros. Silenciosamente, estamos a caminho da exacerbação do
sectarismo religioso, correndo sérios riscos de que uma nova inquisição seja
instalada pelo fundamentalismo religioso.
Isto coloca nas mãos dos líderes de todas as religiões
cultuadas no Brasil, a delicada e importante tarefa de esclarecer os seus
fiéis, quanto às questões mais profundas que constituem as práticas da fé. Num
país de escolaridade precária como o nosso, a ignorância constitui a besta
apocalíptica, que se não for dissolvida à luz do conhecimento, manterá nosso
povo aprisionado pelo medo, diante de tudo aquilo que desconhece, personificado
pela figura medieval de satanás. Os líderes religiosos são os privilegiados que
têm acesso ao conhecimento e à cultura de outros povos e tradições, cabendo-lhes,
através da conscientização, mostrar que a religiosidade transcende a forma como
cada religião é praticada e que, em essência, todos buscam, igualmente, o
sentido de religar-se com um Deus Único.
Nestes dois mil anos de Cristianismo, nunca se viu tanta
diversidade de práticas religiosas. A cada dia, em cada esquina, surge um
templo com uma denominação diferente, sempre que os seus líderes divergem em
algum ponto da doutrina ou em alguma questão econômica, fator essencial do
mercantilismo religioso. Como na casa de Mica, cada qual faz o que parece
direito aos seus olhos, levando consigo uma multidão de cegos espirituais, que
temem a Deus e, assustados, podem pisar naqueles que são os seus semelhantes,
mas que são identificados e rejeitados como diferentes; como os inimigos que
cultuam outro deus, como se Deus pudesse ser dividido em pedaços: O meu Deus, o
seu deus... O meu com D maiúsculo, o seu com d minúsculo.
Sabemos que na história da humanidade, sempre
que o outro é desvalorizado no seu saber e na sua cultura, facilmente, em nome
de Deus, ele pode ser levado à fogueira, não para que morra, claro, mas para
que sua ”alma seja purificada”. Em todas as guerras, sejam econômicas,
políticas ou religiosas, os fins justificam os meios...
Talvez,
como solução para este problema que se avizinha, pudéssemos, todos, tornar-mo-nos
verdadeiros Cristãos, reunindo-nos em torno da Presença do Mestre Jesus, que
através do Novo Testamento, nos deixou uma mensagem de amorosidade e compaixão
para com os diferentes, dizendo-nos: Ama
a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo..
Sueli Meirelles: Especialista em Psicologia Clínica. Pesquisadora
de Fenômenos Psicoespirituais. Consultora em Desenvolvimento Humano, Saúde Integral, Ecologia Integral, Educação para a Paz e Implementação de Projetos Sociais.
E-mail: suelimeirelles@gmail.com