UNIFICA-AÇÃO é um Congresso Anual de Diálogo Inter-Religioso, promovido pela Casa de Assistencia Mãos de Luz, realizado nos dias 27 e 28/07/13, em Nova Friburgo/RJ.
Em 2011, assisti ao primeiro evento e logo me identifiquei com a proposta, que vinha ao encontro de um antigo projeto, com o mesmo objetivo: Buscar a complementariedade entre os diferentes credos, em lugar de questionar as aparentes diferenças, através do estudo comparado das religiões. Acredito em diálogo inter-religioso como espaço de crescimento e evolução de todos os participantes, pois aprendizagem é a diferença entre o que sabemos e o que poderemos chegar a saber.
No UNIFICA-AÇÃO II, participei como palestrante, integrando-me à proposta. O ponto alto do evento foi o abraço do Pastor Evangélico com o Sacerdote Umbandista. Momento pioneiro e abençoado, em que séculos de preconceitos caíram por terra. Todos nós, que lá estávamos, choramos. Lamentamos que a mídia não tenha noticiado, em primeira mão. Como disse o Sacerdote Umbandista presente neste ano, eles teriam sido notícia, se tivessem se agredido, mutuamente.
Neste UNIFICA-AÇÃO III, eu iria palestrar, pela manhã. Ao acordar, peguei minha Bíblia e a abri, aleatoriamente, buscando a Orientação Divina para o dia, como sempre costumo fazer. Meu dedo indicador apontou para o Evangelho de João, Capítulo 17:4: ”Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer”. Senti-me fortalecida e entregue a Vontade Divina, pedindo-Lhe que orientasse a minha fala que, naquele momento se afigurava como foco de atenção do meu trabalho. Mas Deus tem seus desígnios...
Na tarde do segundo dia do evento, teve lugar um fórum, com todos os palestrantes do encontro. No palco, em fila, lado a lado, nove cadeiras. Os palestrantes foram chamados e sentaram-se em lugares aleatórios. Não havia uma ordem pré-estabelecida. Quando subi, havia um espaço vago entre o Sacerdote Umbandista e o Pastor Evangélico. Sentei-me entre eles. Sincronicidade[1]? Será este o ponto mais delicado do diálogo inter-religioso?...
A Organizadora do evento e Mediadora do Fórum, perguntou-nos: _ Qual a solução para a intolerância religiosa? (na leitura do Líder Islâmico,o termo deve ser respeito, porque tolerar significa aturar o que não se gosta e precisamos ir mais além).
Naquele momento, me vi integrando um semi-círculo formado por oito homens e, ainda racionalmente, me perguntei: _O que estou fazendo aqui? Porque eu, mulher, psicóloga, pesquisadora de fenômenos psicoespirituais, que não lidero nenhuma religião, estou aqui? Qual o propósito? Saindo do nível da racionalidade e procurando elevar meu pensamento ao Divino, busquei compreender o que Deus queria nos dizer, naquele momento, através de nós mesmos, com base nos princípios da Geometria Sagrada e da Sincronicidade de eventos. O Psicólogo é o intérprete dos símbolos[2] humanos e, ali, havia uma linguagem simbólica muito evidente. Lembrei-me do arquétipo[3] da Escada de Jacó, a escada bíblica, através da qual o homem busca subir em direção a Deus, e desce para ajudar ao próximo. A escada do céu. A Merkabah Judaica. A escada que representa os estados de consciência do ser humano, no processo de elevação espiritual, em intersecção com os sete Atributos Divinos. Comecei, então, a inter-relacionar cada palestrante, da esquerda para a direita, com um Atributo Divino a ser desenvolvido por cada um de nós, para seguirmos o caminho do diálogo inter-religioso. Neste exato momento, a filhinha do nono palestrante, que estava na extrema direita, subiu ao palco para fazer companhia a seu pai, sentando-se aos seus pés.
Dei início à leitura dos símbolos que se apresentavam, naquele momento: O primeiro palestrante era o representante da igreja da Unificação, que ocupava o lugar do primeiro Atributo da Vontade Divina, trazendo-nos a lembrança de que a perfeita Vontade Divina precisa prevalecer sobre as nossas pequenas vontades humanas. O segundo palestrante era o representante do Islamismo, que ocupava o lugar do segundo Atributo da Sabedoria Divina, lembrando-nos que também precisamos construir essa ponte para as Tradições Orientais, que tantos ensinamentos poderão nos trazer.O terceiro palestrante era o representante do Espiritismo, que ocupava o lugar do terceiro Atributo do Amor Incondicional de Deus. Ah! Se juntarmos pensamento e sentimento, alcançaremos a flexibilidade necessária para a integração entre os opostos. O quarto palestrante era o representante da Medicina Ayurvédica (Ciência da Vida), que ocupava o lugar do quarto Atributo Divino da Paz. Ah! Aqui estava um recado para os médicos que vem se confrontando com tantos obstáculos, em seus caminhos profissionais: A paz, na área da saúde, será alcançada quando a medicina ocidental puder integrar esses antigos conhecimentos da medicina oriental, à sua prática de trabalho. O quinto palestrante era o Sacerdote Umbandista, que ocupava o lugar do quinto Atributo da Verdade, Harmonia e Equilíbrio que, antecipando-se à minha reflexão interior, falou da necessidade de abrirmos espaço para o feminino, dentro das religiões. Abrir espaço para a dimensão do cuidado e preservação da vida. Esta sincronicidade também me surpreendeu!... A sexta palestrante era eu, especialista em psicologia clínica e pesquisadora de fenômenos psico-espirituais, ocupando o lugar do Atributo da Fé. Ah! Como a Psicologia também precisa se aproximar das religiões; aprender a ler seus Livros Sagrados como Tratados do Inconsciente, construindo uma ponte entre a ciência e as Tradições Sapientais da Humanidade... A minha direita estava o representante da Tradição Evangélica, ocupando o lugar do sétimo Atributo da Misericórdia Divina. Ah! Como todos nós precisamos desenvolver Misericórdia e Compaixão, para que possamos realmente amar aqueles em relação aos quais divergimos, diametralmente!... Em oitavo lugar estava o representante do Candomblé, que será palestrante no próximo Unifica-ação, e havia sido apresentado por seu amigo, como homossexual assumido, ocupando o lugar do oitavo atributo da Autenticidade, lembrando-nos que, diante de Deus, não somos nem maiores nem menores do que somos... Bela aprendizagem!... Em nono lugar, estava o representante da Umbanda e do Candomblé, que havia palestrado no evento e ocupava o lugar do nono Atributo Divino do Equilíbrio Cósmico e da transformação. E aos seus pés, sua filhinha Maria Clara. Sim! Esta era a mensagem do Divino! Percebi, num lampejo de compreensão: O resgate do Divino Feminino, depois de milênios de patriarcado e opressão. Maria, Mãe de Jesus, a Bem Amada Arcanjelina Maria[4], descida à Terra para gestar nosso Mestre Jesus, já que nenhuma mulher terrena poderia suportar a alta vibração de seu pequeno Yeshua. Lembrei-me também de Maria Madalena, discípula preferida do Mestre, que despertava ciúmes no apóstolo Pedro, que a ela assim se referia, em conversas com André:_’Será possível que o Mestre tenha conversado assim, com uma mulher?”[5] Julgada pecadora, porque, naqueles tempos, era proibido às mulheres aprenderem a ler e estudar a Torá, o livro Sagrado Judaico... E Clara, o doce complemento divino de Mestre Francisco de Assis. A Clara Luz da consciência a nos iluminar a mente externa. A renovação. A singela Clara de Assis e seu Amado Francisco, arquétipos de humildade, simplicidade, amor ao próximo e respeito à natureza, neste momento tão franciscano da visita do Papa ao Brasil, em momento político conturbado, lembrando-nos que ainda precisamos agregar a Tradição Católica em nossos encontros.
E ali estava, na sua inocência, aos pés de seu patriarca, a pequena Maria Clara, loura e linda, filha da tradição mais discriminada e objeto de maiores preconceitos em nosso país, lembrando-nos que não damos ouvidos à Umbanda, criada no Brasil, em 1934 e ao Candomblé, religião trazida pelos antigos escravos vindos da África. Sim, religiões de povos dominados nunca são consideradas importantes. Foi assim, também com o Cristianismo, em seus primórdios, que era visto pelos romanos como uma seita seguida pelo povo judeu, por eles subjugados. Por isso, ninguém se importava que judeus aprisionados fossem oferecidos aos leões, para deleite da turba ensandecida dos circos romanos. Que fique para nós mais esta reflexão!...
Mas a pequena Maria Clara continuava ali, resgatando nossas esperanças e nos convidando a olharmos o futuro de modo promissor. Ela ocupava o décimo lugar, do Atributo Divino do Consolo Cósmico. O consolo que todos nós necessitamos. O zero que representa o Imanifesto, o Eterno Divino, que gera a si mesmo; que não tem princípio nem fim... Alfa e Omega...E o Um. O recomeço. Recomeço de um novo tempo. Promessa de um futuro em que a pequena Maria Clara não mais será discriminada por sua crença religiosa. Promessa de um tempo em que o melhor de cada religião irá constituir o terceiro incluso descoberto pela Física Quântica, como a resultante que nasce em cada grupo, integrando todas as suas constituintes... É para ela e por ela que estamos trabalhando hoje. Foi por ela e por todas as nossas crianças, das próximas gerações, que participamos do Unifica-ação, dissolvendo nossos dogmas e preconceitos enraizados em nossos corações, endurecidos por nossas crenças auto-limitantes. Promessa de Amor! E então, percebemos que, sem nenhuma fala, Deus se havia tornado pessoa e fazia presente a explícita Verdade Divina, manifestada em cada um de nós. Assim, compreendemos que os grandes inimigos que nos habitam são nossas sombras inconscientes; o Diábolo que nos separa e que precisa ser desconstruído; a fantasia da separatividade que será dissolvida para dar lugar ao símbolo que nos une, o Amor Ágape, o Amor Doação.
“Vinde a mim as criancinhas”, disse o Doce Rabi da Galileia. Por elas e por esse mundo melhor que todos nós desejamos, vamos elevar nossos pensamentos, em uníssono, ao Divino e dizer, humildemente: Pai perdoa-nos pelos preconceitos; perdoa-nos pelo orgulho, prepotência e vaidade; perdoa-nos pela rigidez e pela crítica; perdoa-nos pela maledicência; perdoa-nos pelo sectarismo religioso, porque, somente dissolvendo as sombras dentro de nós mesmos, teremos olhos de ver e ouvidos de ouvir... Nós Te amamos e a Ti agradecemos, porque nos deste a oportunidade de percebermos que a Verdade Divina não é privilégio de nenhuma religião, mas pode ser revelada no encontro entre todas, cada qual dando a sua parcela de contribuição, para a compreensão do Grande Uno dentro do qual todos nós existimos. Assim, encontraremos a solução para a intolerância religiosa... Que possamos compreender as importantes mensagens contidas nesta resposta tão completa, que nos foi trazida por uma abençoada Criança, Mensageira da Paz, que esteve presente no fórum de palestrantes do III UNIFICA-AÇÃO.
Paz, Luz e Graça a todos os participantes.
SUELI MEIRELLES
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[1] Eventos simultâneos e significativos, segundo a Psicologia Junguiana.
[2] Linguisticamente, símbolo é o que une. Diábolo é o que separa.
[3] Modelos significativos para o inconsciente coletivo da humanidade, segundo Carl Gustav Jung.
[4] Para saber mais, leia: Memórias da Bem-Amada Maria, Mãe de Jesus. Editado pelo Centro Lusitano de Unificação Cultural. Portugal.
[5] Para saber mais leia: Leloup, Jean-yves. O Evangelho de Maria Madalena. São Paulo: Vozes. 2004. 6 Ed. Citação da pg. 9.