Tradução

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O QUE É O TEMPO - Ensaio

 


         Em tempos modernos, sob os efeitos da Ressonância Schummam, a aceleração do biorritmo do planeta ou da nossa própria aceleração mental, corremos contra o tempo, procurando dar conta de nossas atividades pessoais e profissionais, com anotações precisas em nossas agendas. Mas será que sempre foi assim? Onde estão os dias tranquilos e silenciosos de outrora, quando o tempo parecia escorrer mais lentamente?... Curiosa diante desta questão, resolvi voltar atrás no próprio tempo, para pesquisar dados históricos, empíricos e simbólicos relacionados às medições do tempo.

Os registros históricos relatam que povos antigos como os Babilônios e Egípcios criaram o “Relógio do Sol”, no qual uma haste fincada no sentido vertical, no centro de um espaço circular, dividido em 12 partes, marcava a passagem do tempo pelo movimento da sombra projetada pela haste, no decorrer de um dia, atribuindo a mesma medida de 12 partes para representar a noite, independentemente de serem mais longas ou mais curtas, segundo o sistema duodecimal utilizado na época, totalizando 24 horas para cada ciclo de dia e noite. Em composição com o sistema sexagesimal, dividiram cada hora em 60 minutos e cada minuto em sessenta segundos. Posteriormente, os gregos criaram a clepsidra, um “Relógio D’Agua”, em que o líquido contido na parte superior de um reservatório escoava, através de um furo, para a parte inferior, marcando assim a passagem da mesma medida de tempo. Esse processo deu origem a ampulheta, na qual a água foi substituída pela areia, para a organização das atividades diárias. Chronos é o nome dado ao tempo, pela mitologia grega. Era considerado o mais novo dos seis poderosos titãs que pertenciam a primeira geração de seres divinos, filho caçula de Urano (representação do céu) e de Gaia (personificação da terra). Atualmente, Cronos é a definição do tempo cronológico e físico, compreendido como medida de anos, meses, dias, horas, minutos e segundos.  Para os Maias, o referencial de tempo era o Calendário Lunar, dividido em 13 meses de 28 dias e um dia extra, o qual eles chamavam de dia do não tempo e era reservado à interiorização e reflexões. E assim os séculos se passaram!...

Com base no Calendário Lunar dos Maias, em 2020, gravei uma Live com uma meditação sobre o “Tempo do não Tempo”, onde com fundamentos nos conhecimentos da Cultura desse povo antigo, conduzi uma meditação na qual, cada pessoa podia despedir-se das memórias disfuncionais do seu passado, delas recolhendo as aprendizagens úteis à própria evolução, tendo também a oportunidade de esvaziarem as ansiedades e expectativas em relação a tudo aquilo que poderia ocorrer no futuro. Aliás, sobre isso, também é importante lembrarmos que o que chamamos de futuro é um conjunto de probabilidades de ocorrência de eventos, que poderão ainda ser por nós alterados, a partir do nosso livre arbítrio, evitando que consequências inadequadas venham a ocorrer. Associado a esta mesma live, em 2005, publiquei um poema inspirado por uma visita à cidade de Conservatória, intitulado “Três Tempos”, no qual ressalto a importância da integração do psiquismo, no tempo presente. E em 2016, publiquei um artigo intitulado Cenários, onde também teço algumas reflexões filosóficas sobre as expectativas em relação à passagem de Ano Novo. A partir dessas memórias e continuando minhas buscas em relação aos significados do tempo, reuni conhecimentos da Física para o aprofundamento dessa influência temporal sobre o nosso psiquismo e o dia a dia de nossas vidas.

         Em relação à vida no mundo tridimensional, que tem as medidas de comprimento, altura e largura, o tempo era compreendido como uma quarta dimensão, referente ao período necessário para percorrermos um espaço linear. E assim pensávamos, até que Albert Einstein criasse a teoria da Relatividade e a noção de tempo circular, segundo a qual, “Na presença de massa o espaço se curva e o tempo se acelera”. Efetivamente, na realidade virtual de hoje em dia, zeramos o tempo cronológico, quando conversamos em tempo real, com alguém que se encontra em outro fuso horário, em qualquer outro ponto do planeta e descobrimos que o tempo cronológico, atualmente, tornou-se relativo e serve apenas para agendarmos nossos compromissos com outras pessoas.

No site da Unipampa – Universidade do Rio Grande do Sul, encontrei um interessante texto sobre o tempo, ainda segundo a Mitologia Grega: “O mais corajoso e jovem dos Titãs, foi o único a ter coragem de ajudar sua mãe Gaia a se livrar dos castigos de seu pai UranoCronos tornou-se rei supremo dos deuses no lugar de seu pai e gerou muitos filhos com sua esposa-irmã Réia.” Neste mito, Cronos é descrito como um pai cruel, que devora seus filhos para que eles não lhe roubem o trono e o poder. Pela tradução do mito, compreendemos que à medida que o tempo passa, ele devora as experiências vividas, que vão ficando para trás, apenas como memórias de um passado que não volta mais, já que não temos corpo no passado, assim como não temos corpo no futuro que ainda está por vir, ambos refletindo, apenas, projeções do nosso psiquismo, em experiências de regressão ou premonição, quando a mente está expandida. Desse modo, Cronos se afigura como implacável em seus movimentos e afeta nossos estados emocionais, causando-nos estresse informacional, quando não conseguimos processar todas as notícias que chegam até nós, dificultando a formação de engramas, que são as células de memória, que se desenvolvem após a percepção, avaliação e arquivamento das informações apreendidas pelos canais de visão, audição e sinestesia. Cronos também nos traz a sensação de envelhecimento, quando comparamos o tempo médio de vida de cada ser humano na terra, podendo afetar nossos sonhos e projetos, quando acreditamos que estamos velhos demais para iniciar uma nova atividade de vida. Mas será que nossa caminhada evolutiva está limitada a esta contagem dos dias que vivemos na terra?

Com relação ao nosso inconsciente, segundo a Psicologia Transpessoal, sabemos que este é atemporal e liga experiências do passado, presente ou futuro por semelhança de padrões emocionais, independentes da relação cronológica, podendo associar acontecimentos de alguns anos atrás, ou até mesmo com intervalo de séculos, como ocorre com as memórias transpessoais do inconsciente coletivo da humanidade, acessíveis através das técnicas regressivas. Este conhecimento levou-me a aprofundar um pouco mais as minhas buscas, encontrando um significado bem interessante relacionado ao tempo: O termo kairós tem origem na Grécia Antiga, berço da civilização ocidental, onde era diretamente relacionado ao deus do tempo, Cronos. Na época, a expressão tinha o sentido de “momento certo” ou “momento oportuno”. Para os gregos, kairós era considerado o momento ideal para se estar presente numa determinada situação. Por influência dos deuses gregos, é claro, o indivíduo deveria aproveitar a oportunidade para realização de tarefas, missões ou processos. Na Bíblia, o termo é usado para se referir ao tempo de Deus, diferente do tempo humano (Chronos), conduzindo-nos a uma profunda reflexão sobre os nossos estados emocionais e a nossa relação com a passagem do tempo: Se nos deixamos oprimir por Cronos, o tempo humano, ficaremos ansiosos e estressados com a idade, com as pressões sociais, metas e objetivos a serem alcançados ou até mesmo acreditando que o nosso tempo já passou e que na velhice, somente nos resta aguardar o término desta existência, como intervalo vivenciado entre o nascimento e a morte do corpo físico. Mas, se conhecemos o significado de Kairós, o Tempo de Deus, desenvolvemos resiliência, a nossa capacidade de enfrentarmos as adversidades, mantendo a habilidade adaptativa, aprendendo com erros e acertos, contornando obstáculos e criando projetos, dentro da realidade de cada momento, agindo como bons alunos na Escola da Vida, até o último dia de aula.  Com Kairós, descobrimos que podemos imprimir qualidade a cada dia; podemos criar boas memórias de nossos relacionamentos afetivos e sociais; podemos desenvolver o hábito de perceber as qualidades das pessoas e os momentos em que podemos ser úteis ao nosso entorno social. Assim sendo, segundo os pressupostos básicos da Psiconeurolinguística, “a linguagem determina a visão de mundo” e “palavras são gatilhos que disparam emoções e sensações” ou ainda “se o que você está fazendo não está dando resultados, faça diferente”, compreendemos que a nossa percepção da realidade depende do estado de consciência em que vibramos. Como nos ensina o Psicólogo Francês, Pierre Weil, introdutor da Psicologia Transpessoal no Brasil, se escolhemos nos deixar direcionar por Cronos ou se nos deixamos conduzir à ampliação de nossas consciências por Kairós, de qualquer forma estamos certos, exercendo o livre arbítrio de nossas próprias escolhas evolutivas...

Outro conhecimento importante para a compreensão do modo como lidamos com o tempo está relacionado a qual das funções psíquicas predominantemente utilizamos em nossas relações com o mundo. Carl Gustava Jung, em sua Psicologia Analítica nos ensina que podemos utilizar a razão, a emoção a sensação e a intuição, as quais, por sua vez, definem os quatro campos do conhecimento humano: Ciência (compreensão racional do que é percebido através dos cinco sentidos de visão, audição, olfato tato e paladar, voltados para o mundo tridimensional); filosofia (compreensão racional do que é percebido através da nossa capacidade de intuição e transcendência, como funções das glândulas hipófise e pineal); arte (expressão emocional desses potenciais no mundo externo: pintura, escultura, poesia...); religiosidade (expressão emocional do que intuímos). Através da aplicação da Técnica das Quatro Funções Psíquicas, podemos identificar, de forma gráfica e com percentuais matemáticos, qual dessas funções cada pessoa mais utiliza em suas relações consigo mesma e com o mundo a sua volta. Quando uma pessoa utiliza mais a lógica e a racionalidade, torna-se objetiva, determinado, focada na avaliação do certo e do errado; se esta função for utilizada em excesso, a pessoa perderá o ponto de equilíbrio entre os extremos e ficará aprisionada ao julgamento e rigidez de conceitos. Uma pessoa regida pelo hábito de dialogar, terá flexibilidade em seus relacionamentos e será ponderada e mediadora em relação a terceiros; quando em excesso, este padrão mental irá gerar dúvidas e inseguranças, em função da tendência de se deixar levar pelas opiniões alheias. Se a pessoa usa mais a religiosidade, terá suporte emocional para lidar com as dificuldades da vida e dar suporte a outras pessoas; quando em excesso, pode gerar fanatismo e distanciamento da realidade. Uma pessoa regida pela tendência artística e lazer, será alegre, de bem com a natureza, criativa e, por outro lado, poderá negligenciar regras e compromissos importantes para a realização de seus objetivos, perdendo foco e determinação. Assim sendo, o equilíbrio entre essas quatro funções psíquicas é fundamental para a saúde física, emocional, mental e espiritual, tornando-se um referencial de avaliação de quais aspectos precisam ser trabalhados, no processo de autoconhecimento.

Como podemos ver, nossas representações simbólicas do que chamamos de tempo, sofreram influências culturais e evolutivas, ao longo da história, mostrando-nos a complexidade do tema. De posse dessas informações, que possamos repensar os significados que atribuímos ao passar dos anos, aproveitando-os da melhor forma possível; buscando imprimir qualidade a cada momento vivido, criando bons momentos e aproveitando novas oportunidades, colecionando boas lembranças ao longo do percurso existencial, o que certamente será fundamental para a manutenção da  saúde e da jovialidade, independentemente de nossa idade cronológica.

Regidos por Cronos, usaremos, predominantemente, nossas funções de razão e sensação, com nossos sentidos voltados para o mundo externo, deixando-nos influenciar pelos modelos sociais que muitas vezes já se tornaram disfuncionais, perdendo nossas motivações e possibilidades de renovação, pela simples ideia de que sempre foi assim e sempre será...

Regidos por Kairós, utilizaremos mais nossas funções de intuição e emoção, seremos inspirados por nossa sabedoria interior, expandindo nossos olhares para além do horizonte físico, onde novos cenários poderão ser descortinados, novos sonhos poderão ser alimentados e transformados em projetos adaptados e passíveis de serem concretizados no presente, desse modo orientando a razão e a sensação rumo à   autorrealização neste eterno aqui-e-agora; neste eterno presente, que tem este nome tão lindo e que chega até cada um de nós como dádiva atemporal, através da qual deixamos para trás os sentimentos depressivos, em relação aos erros do passado que não volta mais e nos libertamos da ansiedade e das expectativas de resultados,  em relação ao futuro que ainda não chegou, permitindo-nos a manifestação de   nossas missões existenciais, com base em nossos propósitos de vida.

Finalizando nossas reflexões, convidamos a todos que lerem este ensaio, para a desafiante proposta de reconexão com a sua sabedoria interior, com o objetivo de rever os símbolos inconscientes, arquivados no mais profundo do seu ser, promovendo a reorganização de todo este material psíquico, de modo a abrir novos espaços de realização pessoal, independente do tempo que tenha transcorrido...

                                             Sueli Meirelles em Nova Friburgo, 02 de Fevereiro de 2024

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