Há cerca de trinta anos, as revistas científicas alertavam para o risco do combate aos sintomas, sem que houvesse uma preocupação efetiva com a recuperação da saúde. Hoje, em filas quilométricas, os doentes aguardam a vez de serem atendidos, buscando a cura para os seus males, agora cronificados.
SUELI MEIRELLES
Transformada em cobaia do laboratório experimental da multimilionária “Indústria da Doença”, a população brasileira espera, pacientemente, pela pílula mágica que irá resolver os seus problemas físicos, emocionais, mentais, espirituais, educacionais, econômicos e sociais, representativos da mais expressiva crise existencial da qual se tem notícia, na história deste país, pois nunca, o povo brasileiro esteve tão distante do sentido de saúde, quanto agora.
Lingüisticamente, o termo saúde tem o mesmo sentido de “estar a salvo”, ou seja, de estar fora do desequilíbrio representado pela doença, esta, por sua vez, significando o pedido de socorro do doente, do dolente, do lamentoso, que expressa, através da linguagem corporal, todo o sofrimento que as palavras não ditas, malditas ou não ouvidas, não conseguiram se fazer compreender. Numa repetição conceitual que já vigora há trezentos anos, as autoridades responsáveis continuam a acreditar que saúde é ausência de sintomas, combatendo-os a altos custos, enquanto a própria Organização Mundial de Saúde conceitua a saúde como um estado de bem-estar, de otimização das condições de vida do ser humano, em seus diferentes aspectos. Por este erro de interpretação, a tentativa governamental de manter o controle sobre a doença, vai deixando a saúde da população escapulir entre seus dedos, comprometendo, a cada dia, a cada ano e a cada geração, o biotipo da nossa população, caminhando, a largos passos, para o desenvolvimento (?) de uma sub-raça humana.
Enquanto permanecermos nesta visão estreita do conceito de saúde, não atentaremos para as possíveis soluções que, com certeza absoluta, não se encontram nos pequeninos fracos dos fármacos (fármaco significa veneno), que, enganosamente, vão adiando a busca das possíveis soluções.
Uma prova contundente de tudo isto, é o fato de que, em dias de chuva, as filas de atendimento em hospitais fiquem consideravelmente reduzidas. Diante do desconforto da distância e da falta de meios próprios de locomoção, a doença não física aguarda por melhores condições de tempo, querendo ser atendida em outras necessidades, além do medicamento paliativo. Também é público e notório, que a maior parte das doenças, mesmo as físicas, têm suas origens na falta de informação quanto a noções básicas de higiene, de alimentação adequada, e nos graves problemas econômicos, sociais e psicológicos, que transformam as emergências e enfermarias gerais dos hospitais públicos, em verdadeiras praças de guerra, onde os profissionais de saúde tentam suprir, com dedicação e criatividade, toda a falta de recursos e de condições de trabalho.
Enquanto isso, a sociedade adormecida, ainda espera por um salvador da pátria, por um líder carismático que venha resolver todos os problemas, para que as boas notícias possam ser acompanhadas, no conforto de suas poltronas, ou discutidas nos infindáveis bate-papos sociais, onde as soluções parecem sempre estar nas mãos dos outros.
Neste contexto caótico, se toda a sociedade não começar a se mobilizar, entendendo que este é um problema de todos nós; se não houver uma ação conjunta da sociedade com as escolas e as igrejas (dois importantes pólos de agregação de pessoas); se não se formar um mutirão de voluntários, através do qual, cada profissional de saúde (são mais de dez especialidades: Médicos, Enfermeiros Nutricionistas, Fonoaudiólogos, Psicólogos, Fisioterapeutas, Farmacêuticos, Assistentes Sociais etc.) possa estar doando parte do seu tempo e do seu conhecimento, em seu próprio espaço de trabalho, contribuindo para a recuperação da saúde integral da população, muito em breve teremos ultrapassado o ponto crítico onde este retorno ainda seja possível.
Se cada profissional doar 10% de sua capacidade de trabalho, em favor da saúde comunitária e preventiva, certamente ainda teremos uma boa chance de promover a mudança de mentalidade necessária para a cura da doença mais endêmica de nosso país: A “Apatia Cidadã”.
SUELI MEIRELLES
Nenhum comentário:
Postar um comentário