“Quanto mais leis e proibições houver no
mundo,
Mais pobre e mísero será o povo.
Quanto mais armas tiver o império,
Mais desordem e confusão haverá entre o povo.
Quanto mais artes e ofícios tiver o povo,
Mais coisas supérfluas e inúteis haverá.
Quanto mais ordens e leis ditem os governos,
Mais salteadores e ladrões haverá.”
(Tao The King – Lao Tse)
Nos estudos de Moral
e Cívica, ou de Geografia e Política, aprendemos que existem três poderes: O
Legislativo (que cria as leis), o Executivo (que executa as leis) e o
Judiciário (que julga o cumprimento das leis).
Como
a vida é um permanente processo de mutação, no qual novos procedimentos se
estabelecem, sem que tivéssemos percebido, esta estrutura política foi sendo modificada
pelos acontecimentos, gerando uma nova configuração. Hoje, temos cinco poderes,
que regem a dinâmica diária de nossas vidas:
O
primeiro é o Poder Econômico, que muitas vezes nos traz noites insones,
exigindo de toda a população, a flexibilidade necessária para atravessar os
múltiplos encargos financeiros da sociedade moderna. Com juros extorsivos e
lucros bilionários, o poder econômico, retido nas mãos de uma pequena parcela
da população, rege as relações comerciais, com cláusulas leoninas, cujo único
objetivo é a manutenção do endividamento do povo, submetido a uma nova forma de
escravidão: A escravidão financeira. Com anúncios atrativos, e variadas
ofertas, sempre disponíveis, de créditos pré-aprovados, o mercado cria
tentadoras armadilhas, para aqueles que não conseguem resistir aos próprios
desejos de consumo, ou às necessidades prementes, não cobertas pelos salários.
A
serviço deste primeiro poder está o Poder da Mídia, o poder da informação, que
alcança os recantos mais distantes do planeta, entrando praticamente em todas
as casas, ativando, em cada pessoa (seja criança, jovem, adulto ou idoso), os
desejos mais ocultos. Ou até mesmo lembrando-os, mais uma vez, das necessidades
não supridas. Como resistir às centenas de anúncios, que baseados nos modernos
conhecimentos da psicologia da comunicação, a cada momento, criam novas
demandas de consumo? Como resistir ao apelo de novos produtos, de um calçado
novo, de uma roupa da moda, do celular mais moderno... Do carro de última geração?
Como abrir os olhos iludidos por tantos apelos irresistíveis, para perceber as
armadilhas que têm como único objetivo sugar o dinheiro, cada vez mais escasso,
da massacrada população brasileira?
Também
a serviço do Poder Econômico, está o Poder Legislativo, cada vez mais atendendo
às exigências do lucro insaciável; criando cada vez mais impostos; bi-tributações,
taxas de estacionamento em vias públicas, regulamentações de centenas de
multas, que consomem o magro salário do trabalhador, e que, oficialmente, ainda
é chamado de “renda”. Leis que, na maioria das vezes, atendem aos interesses de
lobs partidários, ou aos interesses de grupos particulares. Leis que, até mesmo
são criadas para atenderem aos interesses de seus próprios autores. Leis que, somente
em poucos casos, visam o bem comum da população.
Em
quarto lugar, aparentemente ocupando as linhas de frente, está o executivo, através
dos postos oficiais daqueles que deveriam efetivamente governar e ter poder
decisório, mas que acabam ocupando a difícil posição dos que não podem dizer o
que sabem, sem que isto os comprometa até o último fio de cabelo. Nas linhas de
frente, estão aqueles que, muitas vezes seduzidos pelo desejo de poder e pela
vaidade, cedem às pressões exercidas nas sombras dos bastidores, para
reaparecerem à luz dos refletores, tendo que manter a postura pré-estabelecida,
daqueles que fazem de conta que não estão se sentindo atingidos pelas críticas.
Será que, realmente, estes ainda pensam que governam?
Em
último lugar, sufocado pela multiplicidade dos obstáculos que entravam a
justiça, forçando-o a obedecer aos procedimentos procrastinadores, que o deixa
com pés e mãos atados, está o Poder Judiciário. Em último lugar estão aqueles
que, conhecendo a justiça, sabem que, muitas vezes, as leis são injustas, mesmo
quando têm que ser cumpridas. Em último lugar estão aqueles, cuja função é
defender esta população tão sofrida, que, sem ter seus direitos reconhecidos, e
esquecida de que “o poder emana do povo e, em seu nome será exercido”, como prevê
o primeiro artigo de nossa constituição, espera, passivamente, que os poderosos
os respeitem.
Será que esses
poderosos, no silêncio da noite mal dormida, não ouvem a voz da própria
consciência, exigindo-lhes uma mudança de mentalidade, que possa lhes resgatar
a dignidade humana?...