Tradução

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

OS CINCO PODERES



“Quanto mais leis e proibições houver no mundo,
Mais pobre e mísero será o povo.
Quanto mais armas tiver o império,
Mais desordem e confusão haverá entre o povo.
Quanto mais artes e ofícios tiver o povo,
Mais coisas supérfluas e inúteis haverá.
Quanto mais ordens e leis ditem os governos,
Mais salteadores e ladrões haverá.”
(Tao The King – Lao Tse)

            Nos estudos de Moral e Cívica, ou de Geografia e Política, aprendemos que existem três poderes: O Legislativo (que cria as leis), o Executivo (que executa as leis) e o Judiciário (que julga o cumprimento das leis).
            Como a vida é um permanente processo de mutação, no qual novos procedimentos se estabelecem, sem que tivéssemos percebido, esta estrutura política foi sendo modificada pelos acontecimentos, gerando uma nova configuração. Hoje, temos cinco poderes, que regem a dinâmica diária de nossas vidas:
            O primeiro é o Poder Econômico, que muitas vezes nos traz noites insones, exigindo de toda a população, a flexibilidade necessária para atravessar os múltiplos encargos financeiros da sociedade moderna. Com juros extorsivos e lucros bilionários, o poder econômico, retido nas mãos de uma pequena parcela da população, rege as relações comerciais, com cláusulas leoninas, cujo único objetivo é a manutenção do endividamento do povo, submetido a uma nova forma de escravidão: A escravidão financeira. Com anúncios atrativos, e variadas ofertas, sempre disponíveis, de créditos pré-aprovados, o mercado cria tentadoras armadilhas, para aqueles que não conseguem resistir aos próprios desejos de consumo, ou às necessidades prementes, não cobertas pelos salários.
            A serviço deste primeiro poder está o Poder da Mídia, o poder da informação, que alcança os recantos mais distantes do planeta, entrando praticamente em todas as casas, ativando, em cada pessoa (seja criança, jovem, adulto ou idoso), os desejos mais ocultos. Ou até mesmo lembrando-os, mais uma vez, das necessidades não supridas. Como resistir às centenas de anúncios, que baseados nos modernos conhecimentos da psicologia da comunicação, a cada momento, criam novas demandas de consumo? Como resistir ao apelo de novos produtos, de um calçado novo, de uma roupa da moda, do celular mais moderno... Do carro de última geração? Como abrir os olhos iludidos por tantos apelos irresistíveis, para perceber as armadilhas que têm como único objetivo sugar o dinheiro, cada vez mais escasso, da massacrada população brasileira?
            Também a serviço do Poder Econômico, está o Poder Legislativo, cada vez mais atendendo às exigências do lucro insaciável; criando cada vez mais impostos; bi-tributações, taxas de estacionamento em vias públicas, regulamentações de centenas de multas, que consomem o magro salário do trabalhador, e que, oficialmente, ainda é chamado de “renda”. Leis que, na maioria das vezes, atendem aos interesses de lobs partidários, ou aos interesses de grupos particulares. Leis que, até mesmo são criadas para atenderem aos interesses de seus próprios autores. Leis que, somente em poucos casos, visam o bem comum da população.
            Em quarto lugar, aparentemente ocupando as linhas de frente, está o executivo, através dos postos oficiais daqueles que deveriam efetivamente governar e ter poder decisório, mas que acabam ocupando a difícil posição dos que não podem dizer o que sabem, sem que isto os comprometa até o último fio de cabelo. Nas linhas de frente, estão aqueles que, muitas vezes seduzidos pelo desejo de poder e pela vaidade, cedem às pressões exercidas nas sombras dos bastidores, para reaparecerem à luz dos refletores, tendo que manter a postura pré-estabelecida, daqueles que fazem de conta que não estão se sentindo atingidos pelas críticas. Será que, realmente, estes ainda pensam que governam?
            Em último lugar, sufocado pela multiplicidade dos obstáculos que entravam a justiça, forçando-o a obedecer aos procedimentos procrastinadores, que o deixa com pés e mãos atados, está o Poder Judiciário. Em último lugar estão aqueles que, conhecendo a justiça, sabem que, muitas vezes, as leis são injustas, mesmo quando têm que ser cumpridas. Em último lugar estão aqueles, cuja função é defender esta população tão sofrida, que, sem ter seus direitos reconhecidos, e esquecida de que “o poder emana do povo e, em seu nome será exercido”, como prevê o primeiro artigo de nossa constituição, espera, passivamente, que os poderosos os respeitem.

Será que esses poderosos, no silêncio da noite mal dormida, não ouvem a voz da própria consciência, exigindo-lhes uma mudança de mentalidade, que possa lhes resgatar a dignidade humana?...

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